Se Voltaire voltasse e aqui votasse
Um dos pensadores que mais me fascina, e que inclusive inspirou-me - como presidente da Casa do Poeta Brasileiro de Praia Grande-SP a criar como nosso principal evento cultural o Sarau dos Pensadores - em que todo mês homenageamos um grande pensador, é François-Marie Arouet ou como é conhecido, Voltaire.
O mais famoso filósofo da França e principal nome de um movimento que sacudiu a Europa e suas colônias no século XVIII, o Iluminismo.
Voitaire, numa época de reis devassos, religiosos absolutistas, intelectuais comprometidos e povo submisso, fez da literatura o chicote que açoitou a Realeza, a Igreja e demais segmentos da burguesia francesa. O que lhe rendeu inúmeros e dolorosos percalços.
O engajamento nas questões políticas o levou a transformar-se num educador social, missão que assumiu por toda a vida, e que o tornou alvo a ser atingido pela aristocracia e intelectualidade comprometida com a ditadura da época.
E é nesse aspecto, que trago para a sua reflexão, leitor, algumas máximas de Voltaire, que embora pensadas numa França de elevada corrupção, escândalos sexuais, fanatismo religioso, miséria social, no período de nascimento (1694) e morte de Voltaire (1772) e da Revolução Francesa (1789), servem para comparar com o momento no qual vivemos no Brasil de hoje.
Rei aqui não temos, mas o sistema, se bobearmos, se perpetua. Nossos políticos a cada dia se superam e mostram a verdadeira face. A linguagem de muitos formadores de opinião é desprovida do fator revolução e carregada do fator adesão e, na ponta final desse condão, está uma parte da nossa nação submissa ao assistencialismo oficial e religioso, como se não houvesse outra saída além dessa aparente benevolência.
Disse nos Voltaire: “Na França era preciso ser BIGORNA ou MARTELO. Eu fui BIGORNA”.
O Brasil precisa ter os agentes formadores de opinião no seu papel de Bigorna, tipo Carlos Lacerda. Hoje parece que todos estão felizes no papel de martelo. Sempre pregando o prego da servidão no peito do povo brasileiro, de acordo com as conveniências e interesses dos poderosos.
Poucos são os que, inteligentemente, ousam azucrinar o sistema com suas penas, tal como Voltaire o fez. Eu conheço dois que exercem com bravura a função de bigorna, mas é pouco, muito pouco e, por isso, os poderosos fazem a festa.
Ainda Voltaire: “A necessidade obrigatória de falar e o embaraço de nada ter para falar, são duas coisas capazes de tornar ridículo ainda mais o maior homem”.
No Brasil de hoje, a verdade é menos importante que a mentira. Aquele que mente ou se omite, diante da verdade dos fatos escorado em premissas, tipo “Eu não sabia”, “Eu fui traído”, “Ainda não fui julgado”, multiplicam-se, transformando os escândalos nos quais a grande maioria dos nossos governantes estão envolvidos em corriqueiras pizzas, que são digeridas a contra-gosto por uma parte da nossa sociedade, e de boa vontade pela outra parte.
Vejam essa: “O melhor governo é aquele em que há o menor numero de homens inúteis”
Como se mede um homem inútil?
Houve um tempo no qual se respondia prontamente: MEDICI de cima a baixo. Hoje, os que afirmavam isso estão no poder e se acham poucos, querem ser mais para deixar tudo dominado.
E essa: “A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano”
Quem um dia precisou de um atendimento médico num hospital público sabe muito bem o peso dessa sentença.
Voltaire tinha cada uma: “Os reis são para seus ministros como os cornudos para as suas esposas, nunca sabem o que se passa”.
Nesse aspecto, os cornudos evoluíram muito desde a queda da bastilha, pois hoje, eles sabem, assumem e curtem os seus chifres. Só os reis; os da França, de Guaranhus e Piaçabuçu é que permanecem como os últimos a saber o que se passa nos domínios deles.
Não podemos desprezar a lógica de Voltaire: “Tenho maior confiança no desempenho de um homem que espera ter uma grande recompensa do que no daquele que já a recebeu”
E continuaram recebendo, pois esses encastelados no poder, dele não querem abrir mão e se acham perpétuos. Renovação não é uma prática constante e o continuísmo torna-se uma praga.
E é mesmo: “Um déspota tem sempre alguns bons momentos. Uma assembléia de déspotas nunca os tem”.
O que fazer?
“Pra que discutir com homens que não se rendem às verdades mais evidentes? Esses não são homens, são pedras!”.
E eu pergunto: Pedras pensam?
Vou terminar este reflexivo texto com três sentenças do magnífico filósofo Voltaire:
“Os homens erram, mas só os grandes homens confessam que erraram”.“Posso não concordar com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo”.“Se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo”.
A inexistência de Deus nos daria uma responsabilidade que não saberíamos usar, o que nos levaria mais rapidamente à destruição.
Deus, de tão bom, está ao lado de todos, do vencedor e do vencido.
Se Voltaire voltasse e aqui votasse, antes de cumprida a sua obrigação eleitoral, repetiria sem medo de errar:
“Só há uma maneira de lutar contra o poder, é sobreviver-lhe!”.
Portanto, leitor, fique esperto. E no momento em que se encontrar de pé diante da urna, lembre-se de Voltaire:
“Esse monstro enorme e que se chama povo, e que tem tantos ouvidos e tantas línguas, mas ao qual faltam olhos”.
Abra os seus e vote, vote para sobreviver!
FIM