Zero de recados

Pediu desculpas e completou: estou zero de recados. Nenhuma voz fala, nenhum “fake” zomba de mim, nenhuma maravilha da inteligência sorri com seu magistral tópico. Nenhum poeta gaguejado, nenhuma promessa de coisa satisfeita, nenhum consolo que não o próprio, nenhum endereço, nenhuma placa, nenhum cartão. Apenas a internet tem razão e nada mais.

Pobre homem moderno e sem recado. Sem campeonato nacional, sem título como um pobre liberto. Pobre, pobre, mas tão pobre que na rua nada se vê com mil deles passeando. Semeado de letras permanece esta placa de manhã no vidro iluminado. Visor que recolhe a alma acesa quando então coleta todas as impressões sobre ti. Sujeito composto de unidade presumida no tempo em que tudo se promove no plano comunicado observe: o globo requer cuidados! A terra, redonda, é achatada nos pólos até a chegada da Damares. Derrete-se lamentavelmente entre a sujeira escoada do mundo e a escória equivocada procurando ideologia. Assim a tecnologia avança pelo espectro da natureza. Assusta-nos a voz em tom terrível e catastrófico sobre o afeto que requer cuidados. Avisa e jamais garante a permanência do efeito afetivo. Segue signo como se a alegria fosse mistura de hinos num momento de alacridade fenomenal. O recado procura um espelho e se completa na sinuosa estrada de pó. Diz-se agora virtual vazio de recados. Estava seco. Medonhamente nu diante do rústico buraco abstrato. Vazio como se a sombra no fosso fosse menos subtil no silêncio daquele que pediu para ouvir e nada escutou. Pouco adianta sinônimos como cavo, vácuo, oco para minar o sentido da palavra. O teatro de tópicos é a reflexão para as próximas vidas no debate das futuras almas: Papai utilizava nome postiço, titia escrevia versos de aldeia. Milhares de recados guardados em bites. Estilos. Mar de opiniões e ele de pijama na sala. Temente a Deus e vazio de recados.