NA ROTA DO DESENVOLVIMENTO

O Brasil está, finalmente, se tornando um país de primeiro mundo. Basta que olhemos para as notícias recentes nos jornais para constatarmos que o que acontece naqueles países tão invejados também anda ocorrendo por aqui. Infelizmente o que nos aproxima dos países desenvolvidos não são os aspectos positivos que levam nossos conterrâneos a enfrentar as dificuldades de um novo idioma, os costumes diferentes dos nossos, o clima muitas vezes imensamente frio, não. O Brasil anda copiando na escala do desenvolvimento os aspectos negativos e as graves crises que agem inversamente ao caminho dos emigrantes desesperançosos de nossa terra de ordem e progresso.

Brasileiros, voltem!

Nós temos terremotos perceptíveis agora. É verdade, recentemente houve um abalo sísmico no Atlântico, produzindo, pequeno ainda, mas no futuro a promessa é que seja maior, um tremor de cinco segundos em quatro estados, dois da região Sul e dois da Sudeste. Bem, Paraná e Santa Catarina são um caso a parte, pois são mais europeus do que brasileiros em muitos aspectos, a começar pela grande quantidade dos imigrantes e suas culturas diversas ali arraigadas; mas nas regiões do Rio de Janeiro e de São Paulo surpreendidas pelo pequeno abalo, houve até comemoração com champanhe e fogos de artifício para comemorar a nova. Rumo ao primeiro mundo, dizia um entusiasta feliz, uma pena que durou muito pouco e não deu para gravar com a minha ultramoderna filmadora digital. Fica p’ra próxima vez!

Pois bem, antes dos terremotos, já desembarcaram em nossos portos as mais modernas bugigangas vindas do Japão, Estados Unidos da América, Alemanha e outros países produtores que, como nós, também querem subir na tabela do campeonato, como a China, por exemplo. Temos em nossas casas um arsenal eletrônico tão vasto e tão sem importância em nossas vidas, que freqüentemente me pergunto por que diabos gastei uma fortuna para a montagem do meu incrível home teather, com os melhores aparelhos antes importados, agora fabricados, em maior parte, na famosa Zona Franca de Manaus. Mas não tenho certeza de que a produção é original ou se me chegou via Paraguai.

Nossa televisão agora é digital como nos países que invejamos. Melhor recepção para não fazermos nada quando estamos alienados no sofá diante de programas de entretenimento. A leitura é secundária como andam fazendo por lá, apesar de o governo investir em projetos de incentivo, nós continuamos trocando os livros por um bom programa de alienação, quer dizer, televisão.

Para os automaníacos, a certeza de que rumamos ao primeiro escalão é o investimento na indústria do setor. Temos além do fusca, esse parece que nunca sairá de nossas estradas, o Pólo, que segundo a Wolksvagen é igual em todo o mundo. Ainda não chegamos a perfeição, porque o que gastamos com impostos é ainda um assalto à mão armada feito pelo governo. Mas se todo imposto é meio abusivo, não deve ser culpa do governo.

Ainda não somos uma Holanda, mas as drogas que circulam por aqui tem um sistema de venda muito bem organizado, embora seja um negócio ainda à margem dos legalizados, mas se tem até mesmo um plano de carreira lógico que desde a infância prepara o indivíduo para chegar ao topo da profissão, certamente em pouco tempo nos equipararemos ao referido país das drogas e do sexo livre. Pois é, a grande diferença entre o Brasil e a Holanda na forma de se vender o sexo é que lá o cliente escolhe a sua mercadoria em vitrines, mulheres expostas como objetos em lojas, já aqui temos as estradas como expositores, principalmente nas proximidades às paradas de caminhoneiros, mas há também os classificados de jornal e casas especializadas para escolhermos melhor o nosso produto. E convenhamos, a mulher brasileira é muito mais interessante do que a européia.

Como nos Estados Unidos, nós também temos casos de pedofilia. Tudo bem que aqui, em geral, são casos isolados, não é como lá, em que os padres possuem um caderninho com o nome dos coroinhas e suas habilidades, digamos, pecaminosas. Nossos padres ainda estão atrasados na onda do desenvolvimento, mas se insistirmos muito, quem sabe, um dia, eles serão também manchete de jornais sensacionalistas, num escândalo típico de paróquia americana.

Casos como o assassinato da menina Isabella são comuns por outras terras. Nossos jornais já se assemelham a CNN ou BBC com sua cobertura jornalística de ponta para encobrir, além de crimes parecidos como esse, outras barbaridades cometidas por homens psicóticos, e repórteres preparados para vender uma única notícia, que embora chocante pela monstruosidade dos acusados, escondem outros problemas que deveriam também ter seu espaço ampliado nos meios de comunicação, como as CPI’s que nunca dão em nada ou os gastos inacreditáveis dos nossos governantes.

Infelizmente o Brasil ainda deve em alguns aspectos para chegar ao patamar dos países desenvolvidos. Nossas eleições não têm erros na apuração dos votos, nossos governantes são pacíficos e não promovem guerras, nosso povo é caloroso e recebe a todos de braços abertos, nossa alegria é constante e contagia como uma doença, nossas reservas naturais são lindas que o mundo inteiro as admira, nosso país é miscigenado, multi-étnicos e vivemos como iguais, nossa fé em melhores dias é inquestionável, apesar de todos os problemas que enfrentamos. Somente quando resolvermos esses problemas cruciais em nossa sociedade, nós conseguiremos nos equiparar com os grandes monstros do desenvolvimento mundial, mas até lá continuaremos, felizmente, um país de terceiro mundo, não em desenvolvimento.

Alberto da Cruz

2008, 23 de abril