Cara de pau

Eu conto as palavras dos versos, construo as frases soltas e me arrisco até compor melodia, só para ter a satisfação de sorrir de todo cinismo impregnado.

Como se um dia as máscaras não caíssem, nem mesmo os melhores cirurgiões plásticos conseguissem desfazer a famosa cara de pau, esta tem marca certa. Você sente o cheiro do produto longe, tem sempre uma ruga de preocupação, afinal, mentira tem pernas curtas, tão curtas que em certas ocasiões não conseguem mais dar seus passos, se vive tenso, procurando justificativas que se tornem plausíveis, e a encenação chega a ser tão perfeita que se consegue até compor laços... mas comigo, desfaço até nó.

Pois bem, a peça acabou, retirei os cílios postiços para que pudesse enxergar melhor, talvez tivessem sido os responsáveis pela falta de nitidez sobre personalidades. Não é preciso entrar no melhor curso de teatro para se tornar um excelente ator, afinal, a vida de ócio, dos pensamentos maquiavélicos, da ausência de amor e de credibilidade, é capaz de tirar a dignidade de um ser humano, e fazer de sua vida real a pior novela mexicana que você já tenha assistido.

É incrível a capacidade que o coração tem em se regenerar. Só não consegui entender ainda como é que o meu pode ser tão estúpido, o sentimento de pena faz com que a gente acabe sentindo compaixão. Senhores mentirosos, usem, abusem do curso de interpretação, mas saibam que muitas vezes as leituras diárias dispensam os cursos prodigiosos de artes cênicas.

Dentro da premiação do cinema brasileiro, receba o título da categoria ator coadjuvante, e só para que recorde bem, sem grandes méritos, pois ao teu lado, não teria como deixar de aprender à atuar. O papel principal foi meu, e diga-se de passagem, de mocinha boazinha, tornei-me a vilã, sem castidade nenhuma.

Ao fim, pedirei palmas para este ser tão volúvel, que pode ter levado consigo algumas lágrimas de bons sentimentos, mas que nunca conseguirá recolher um pouco daquilo que ainda é meu, e isto vem dá chamada dignidade.

Pago o preço que for para ter no meu caderno de decepções o seu nome riscado como o mais covarde de todos, se é que gastar a tinta da minha caneta ainda possa valer a pena.