NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM...

  Havia acabado de chegar em casa após um dia chato e cancativo no trabalho. O Peter, que havia chegado primeiro tratou de buscar as criancas na escola e estavam todos à minha espera mortos de fome. 
  Como o humor não estava dos melhores, já entrei resmungando. "Quem deixou esses patins jogados pelo meio do hall? João, meu filho, quantas vezes  terei de te dizer que não quero vocês comendo ou bebendo o que quer que seja na frente do televisor? E você Peter, como é que me deixa as criacas tomarem lanche a essa hora? Não sabe que eles terão de jantar daqui a trinta minutos?" E assim continuo, fazendo meu caminho pela cozinha assim que pendurara meu sobre tudo, cachecóis e afins. 
  Na cozinha, ando de um lado para outro, penso nos problemas com a escola, com o trabalho, penso em todo frio e toda a neve que cai continuamente lá fora. Onde está a primavera que prometeram chegaria mais cedo, pensei desgostosa. Entre um prato lavado, uma panela posta a esquentar no fogo volto a meu discurso, que eu mesma acreditava, para ouvidos surdos.
  "Será que alguém pode vir aqui enxugar essa loca e colocar a mesa? Porque apenas eu tenho de trabalhar nessa casa?" Ninguém aparece, sinto que ninguém me escuta, mas continuo meu monólogo: "Se todos não ajudarem, vou comer sozinha!" me exalto. "Só eu trabalho, pois à partir de agora apenas eu como!"
  Foi aí que meu filho de seis anos veio até a mim, puxou-me a saia para que virasse-me para olha-lo e disse: "Nem só de pão vive o homem".
  É isso. Calei a boca, terminei o jantar, coloquei a mesa, lavei a loca, li para meus filhos, escovei os dentes e ao deitar-me fiquei pensando no velho clichê e descobri que preciso amar mais, saborear mais as coisa belas que me cercam sem que eu nem perceba. Não que eu andasse vivendo só de pão, mas, se nem só de pão vive o homem, também não é de carro do ano que ele vive...


Monique Freitas
Enviado por Monique Freitas em 02/07/2008
Reeditado em 02/08/2008
Código do texto: T1062077
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