Um Discurso Inesquecível Para Ser Esquecido

Tão tímido o pobrezinho resolveu se candidatar a vereador. Exigência da família. O pai, político aposentado, havia sido, por várias, vereador daquela cidadezinha no interior do Paraná . E o avô, já falecido fora o prefeito daquele lugar.

Acontece que o comício do partido estava marcado para oito horas da noite. Coitadinho! Teria que fazer um discurso. Imagine um rapaz todo tímido, que em toda sua vida, falara pouco, quase nada. Nem sabia escrever direito. Mas, pensando nisso, o pai elaborou um discurso bem pomposo, cheio de palavras difíceis. Tudo preparado para a apresentação do sofrido rapaz.

- Pai, eu vou ter que decorar isso?

- Seria melhor, mas pode olhar no papel.

- Tem muita coisa aqui.

- O que são duas páginas? Quase nada! Bem que eu queria ter feito um discurso maior pra você, mas como você...

- Eu...

-Hum?

- Nada não, pai.

- Eu não criei você pra não ser político, não! Você é um rapaz formado, terminou há cinco anos o segundo grau...

- Ensino Médio.

- Terminou o segundo grau, agora vai iniciar uma carreira política. Hoje vereador, amanhã prefeito! Um dia será Presidente da República. Vai falar cara a cara com Bush.

- Se um dia eu for prefeito, esse Bush nem vai estar vivo.

O tempo estava passando depressa para aquele novo candidato a vereador. O pai também não havia feito faculdade, muito menos tentado. Para ele o mais importante era a política. Sabia dizer palavras difíceis, mas seu conhecimento era pouco.

E assim, três horas depois, estavam todos no palanque. Metade da população estava na praça à espera do comício. Não haveria show, mas o candidato a prefeito prometeu trazer um cantor ou cantora bem conhecidos no Brasil inteiro. Promessas, promessas, promessas.

Às 20 horas e 38 minutos , sendo que o comício estava marcado para as 20 horas, os candidatos a vereador começaram o seu discurso. Foi combinado que o prefeito faria o seu por último e seu filho seria o penúltimo. Seria uma forma de mantê-lo mais calmo, porque o pobrezinho tremia muito.

Enfim, após os vereadores falarem e falarem e falarem, chegou a vez do filho do candidato a prefeito. Ele estava nervoso demais, sua boca estava seca, sua respiração ofegante. Tinha vontade de sair dali e se esconder de todos. Tremendo ele tirou o discurso do bolso da camisa. Enquanto isso, as pessoas cochichavam entre si e riam do coitadinho. Seu pai observava tudo, nervoso também, mas perto do filho seu nervosíssimo era quase imperceptível. Logo seu filho começou a falar:

- Bem... Po-po-povo de... É... Hum...

Aquela hora, ele não conseguiu dizer mais nada. Seu rosto estava tão vermelho que queimava como fogo. Ele, decididamente, tomou “coragem” e saiu dali correndo, recebendo as vaias e gargalhadas da população. Seu pai, envergonhado e enfurecido não quis falar mais nada. O comício, então, acabou ali.

No dia seguinte, a resenha do fracasso do comício correu a cidade toda.

E o rapaz tímido? Melhor deixarmos ele sossegado, já passou vexame demais. Tão cedo não vamos tocar nesse assunto, Deixemos a população esquecer esse fiasco e vamos cuidar cada um de nossos próprios assuntos.

LLP
Enviado por LLP em 02/07/2008
Reeditado em 12/04/2009
Código do texto: T1061923
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