Terras Brasilis
- O que vim fazer aqui? – perguntei-me diversas vezes, desde que voltei ao Brasil. Depois de ter vivido por cinco anos fora do país, o retorno foi um processo doloroso, lento e cheio de arrependimento - Se eu tivesse ficado fora, não estaria tão infeliz aqui dentro – segui maldizendo, diante de uma realidade que pouco mudou, enquanto estive fora: criminalidade, caos, trânsito, corrupção, falta de oportunidades; enfim, uma lista interminável de mazelas que já existiam antes que eu partisse e nunca estiveram tão presentes.
- Preciso ir embora! Quero sair daqui! – disse a mim mesmo. Comando forte, ação sugerida e colocada em prática. Prestes a partir, cai do galho e percebi que cuspia no prato que tanto havia me alimentado.
“O Brasil também é bonitinho!” – cantou para mim um passarinho, na última manhã de domingo. Justamente quando eu já tinha certeza que voltaria para a estrada. “Todo lugar do mundo tem seus positivos e negativos. Se quiser ir, vá, e conheça outras terras, mas não use a escuridão da sua terra como desculpa para sua vontade de partir”.
O passarinho tinha razão, e embora o obscuro que nubla o nosso sol, seja às vezes mais evidente que os frutos que alimentam; em nenhum outro lugar do mundo em que estive, recebi tamanho aprendizado. Nem na Índia dos Rishis, nem na Israel dos Messias, tive acesso a tanto conhecimento; nem no Egito dos Faraós ou nas terras celtas da Inglaterra, aprendi tanto.
Sou um viajante com fome de estrada e doem as asas estar esse tempo todo pousado em uma só árvore, pois há tempos aceitei que a minha natureza é desvendar horizontes; mas tenho sido ingrato com a minha terra. Por isso, entendi o recado do passarinho e aceitar as minhas raízes faz parte do processo de ser cidadão do mundo.
Foi nesse barro que me formei, foi aqui que ganhei minha família, essa cultura e uma língua, que é dessa torre de babel, uma das mais bonitas. Percorri os quatro cantos do mundo, mas foi aqui que encontrei minha companheira e foi no Brasil, que aprendi a engatinhar na vida.
Se há tesouros que carrego na alma e que ficarão comigo o resto da vida, eles foram conquistados aqui e é necessário reconhecer que independentemente da paz ou da guerra, essa terra é abençoada. Se um dia tiver que partir, e eu me conheço, é só uma questão de tempo para bater as asas; respeitar o valor dessa terra é essencial para a minha formação como ser humano e viajante da alma.
Frank Oliveira
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