Ana Pão de Açúcar

   Dentro do supermercado, vai varrendo as prateleiras em busca de promoções e produtos com preços acessíveis. Logo atrás, seu marido carrancudo, louco para se livrar daquela obrigação dominical, indignado por trabalhar a semana inteira e ter que enfrentar aquela longa fila no caixa. Já repararam as caras dos maridos em dia de compra do mês? Depois de meia hora de baliza com o carrinho, ela fala:
- Amor. Dá pra ir buscar óleo?
- Óleo? Mais já passamos do corredor. Pegamos arroz. O óleo estava bem em frente.
- Tá. Vai e vê se traz do mais barato. Pare de reclamar, te dou cartão vermelho. 

   Resmungando contrariedade, põe-se a caminhar rumo ao setor de cereais. Imagina chegando em casa, todas aquelas sacolinhas. Iria dar umas quatro viagens, isso, quatro ou cinco. Pior que morava em apartamento, teria que subir uns quatros lanços de escadas e ainda por cima ela pediria sua ajuda para estocar os mantimentos. Detestava aquilo, preferia assistir o Faustão que fazer compras.

   Chega à prateleira e pega a primeira lata de óleo que vê em sua frente. Retorna pensando naquele sobe e desce de coisas para organizar a dispensa em pleno domingo, dia de futebol.
- Pronto.
- Isso é Canola.
- O que tem? Num é óleo? Pra mim é tudo igual Aninha.
- Sabe quanto custa esta lata? Um horror. Vamos. Vamos trocar. Quero de Soja, metade do preço. Vou fazer marcação cerrada.
- Ah tá. Mas vai logo. Não agüento mais ficar em pé. Odeio fazer compras com você, parece que está em campo.
- Não reclama. Estou economizando dinheiro, sei quanto vale o suor.

   Dirigem-se para corredor do óleo e após trocar pelo produto mais barato, prosseguem a procissão. Concentradíssima, vasculha tudo que vê pela frente. Preço. Validade. Marca. Ele olha no relógio, já passara das dezesseis. Lembra do jogo. Impaciente, protesta:
- Ainda vamos demorar muito?
- Num começa. Tô pechinchando.
- Pechinchando? Mulher faça-me o favor. Isso lá é hora de pechinchar? Hoje tem jogo do “Peixe”. É a final. Vamos.
- Ótimo. Lembrou bem, sabia que precisava de óleo. Vamos à peixaria.
- Só pode estar brincando comigo? Ô djiabo. Tu num tava na fila do açougue agora mesmo? Hoje perco as estribeiras.
- Brincando não. Me deu uma vontade de comer peixinhos fritos. Hum. Vou levar pescada, enquanto isso vá buscar limões. Preciso temperar nosso jantar.

   Arredio, dirige-se ao hortifrutigranjeiro, até que um peixinho frito com limões cairia bem àquela tarde. Pensava na Vila, casa cheia. Jogo do Peixe. Ao menos aquele jogo não seria temperado pelo apito de Ana Paula Oliveira. Consolo.
Sidrônio Moraes
Enviado por Sidrônio Moraes em 30/06/2008
Reeditado em 08/11/2008
Código do texto: T1058913
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