Custa ter um pouco de humildade?

Sinto que gosto cada vez menos da escritora gaúcha Martha Medeiros, seja pelos textos, seja pelas afirmações e gostos. Claro que eu não teria nada que julgar o que ela gosta ou não gosta, diz ou não diz, mas como leitora sinto que é impossível. A gente sempre acaba desenvolvendo um olhar crítico, até para conseguir distinguir o que vale a pena ler e o que não vale.

Também não quero dizer que não se deva ler os textos da cronista, muito pelo contrário, como afirmei no meu texto “A formação do Leitor”, não sou contra nenhum tipo de leitura. Cada um lê o que lhe parece interessante desde que tente evoluir para trabalhos melhores. Eu mesma, no início da faculdade, li Martha Medeiros. Uma das minhas professoras, que eu não achava uma boa professora também, convidou a escritora para palestrar para os alunos dos semestres iniciais de Letras. Confesso que, com as leituras que eu tinha acumulado até então, consegui considerar os textos dela agradáveis.

Mas na medida em que eu fui evoluindo, e ficando mais exigente em relação às minhas leituras, comecei a considerar os textos dela muito superficiais e fúteis. E, por isso, não me surpreendi ao ler no blog que ela mantém no site do clicrbs, que ela gostou do filme Sex and the City da metade para o final. Peço desculpas a quem viu e gostou do grande lançamento, mas que é algo extremamente adolescente e bobo, isso é. Um bando de mulheres falando de homens, roupas e sapatos é novidade? Acrescenta algo de útil às nossas vidas? Bom, talvez eu que não tenha tido inteligência suficiente para encontrar algo relevante no filme.

Na verdade, o que mais me perturbou ao ler o blog dela hoje foi o trecho seguinte:

“Uma leitora pergunta se o texto "A voz do silêncio", que circula pela internet, é meu. Olha, assim pelo título, não lembro, pode ser, mas sempre aconselho: desconfiem de tudo o que lêem na internet. O começo do texto pode ser meu e o final pode ser de algum zé mané que resolveu acrescentar sua "contribuição", botando tudo a perder. Acontece em 90% das vezes em que os textos caem na rede.”

Será que ela já parou para pensar que pode não ser um zé mané que acrescentou algo ao texto dela? Pode ter sido um admirador, um escritor. Tudo bem que não é certo, mas dizer que um zé mané acrescenta algo botando tudo a perder? Vai que o Zé Mané acrescenta algo e torna o texto dela melhor do que era? Será que ela se acha tão maravilhosamente talentosa que considera qualquer outra pessoa como Zé Mané que vai botar tudo a perder?

Enfim, acredito que a humildade seja uma característica essencial, não só para escritores, mas para todas as pessoas. Não dá para chegar num ponto em que o Ego passa a dominar e cegar a pessoa dessa maneira. Quando isso acontece, aí sim, o próprio indivíduo põe tudo a perder. Então seria bom que ela refletisse um pouquinho e percebesse que, talvez ela mesma ponha tudo a perder e não o Zé Mané.

Raquel Corrêa
Enviado por Raquel Corrêa em 30/06/2008
Reeditado em 30/06/2008
Código do texto: T1058784
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