Ruth e Eu < **** >
Ruth e eu moramos perto quase toda a nossa infância, na cidade de São Paulo.
Éramos inseparáveis. Por circunstâncias da vida, tive que deixa-la e vir para Belo horizonte. Ficamos longos anos sem contato.
Já estávamos moças, eu tinha 14 anos, ela 15 anos. Quando a "VIDA" nos uniu novamente (Se assim devo dizer vida). Antes não tivéssemos nos encontrado...
Sem esperar eu e minha mãe em casa normalmente,
Chegaram duas primas para nos visitar, Isa e Léia.
Irmãs de Ruth. Tamanha foi nossa alegria, muitos beijos, abraços, trocas de carinho. Não acreditávamos que estávamos juntas novamente.
Mais senti falta de algo, uma ligeira inquietação. Quando terminamos toda aquela euforia ,ou melhor dizendo isteria, ou qualquer coisa desse gênero bem exagerado. Minha mãe perguntou da Rutinha, pois era a caçula da família, a linda e doce menina. Nesse exato momento como uma sombra, invadiu a sala.
As primas ficaram sérias e sem nenhum vestígio daquela alegria segundos antes.
Vieram lágrimas, no lugar de respostas.
Uma delas disse com muito sentimento: _ Ela está doente...
Nós viemos enterna-la aqui no hospital "Felício Roxo" O qual tem mais recurso para esse tipo de doença.
O silêncio tomou conta de todas.
Olhando fixo para Léia queríamos saber o nome da doença,
com um grande esforço ela disse: Leucemia.
Pareço não sentir nada naquele momento, a vida parou fiquei confusa, sei lá... De repente fui tomada por sentimentos múltiplos de dor, impotencia, medo, indignidade, saudade...
Como pode acontecer isso com uma garota de 15 anos.
Linda, inocente como uma criança, ainda não tinha tido seu primeiro namorado, ainda não tinha ido a todos os lugares, nem usado todos os seus vestidos, nem terminado de ler seu livro....
Fomos visitá-la no mesmo instante.
Lá na portaria uma placa "PROIBIDA ENTRADA MENOR DE 14 ANOS"
Eu já tinha 14 anos, mas esqueci de levar os documentos, devido eu ser baixinha, magrinha, parecia ter 11 anos no máximo. Fui barrada!
Foram os 15m. de visita mais longos da minha vida, tão perto da minha querida prima sem poder ao menos vela de longe.
Voltamos pra casa. Chore, sofri, orei....
Dias depois ela recebeu alta. Parecíamos duas crianças que acabávamos de ganhar o brinquedo mais desejado. Ficamos juntas o tempo todo, tudo fazíamos bem juntinhas, passeios, refeições, dormindo, até tomando banho e com toda a inocência de duas meninas descobrindo o corpo de mulher. Quantas perguntas, quantas curiosidades... Rimos muito. Momento único.
Ruth não estava se sentindo bem, estava cada dia mais fraca mais indisposta. Ela tinha lindos cabelos compridos! E ao pentea-los me pedia para sair de perto, pois não queria que eu os visse cair em grandes mechas. Mas eu via e sofria com ela.
Um dia ele acordou muito pálida, sentamos frente a frente, ela segurou minhas mãos com mãos de anjo, disse olhando dentro dos meus olhos, com os olhos tão azuis que eu parecia estar vendo o céu.
Com um sorriso forçado nos lábios sem cor Falou:
_ Estou indo ao hospital, não quero que vai lá me ver, essa é a última lembrança que quero que tenha de mim.
Se esforçou mais um pouco para disfarçar a dor, sorriu e me pediu um abraço. Eu a abracei com todo o cuidado, ela me disse baixinho, quase gemendo,"_ Forte prima! Quero sentir seu abraço pois pode ser o último".
E, foi.....
(Onde estiver minha prima,
esteja em paz.)