O MARCADOR DE LIVRO E A EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Certo sábado fui comprar livros, em sebos do centro da cidade e num desses sebos, com nome de um grande compositor de óperas, comprei as Poesias Completas de Jorge de Lima e de Cruz e Sousa. Contei com um bom desconto da vendedora, uma senhora simpática e que me ofereceu também alguns marcadores de livros.

Ao chegar em casa, saboreei um pouco a leitura dos livros e em certo momento, ao me decidir por parar, provisoriamente, a leitura dos dois poetas, busquei na estante um dos marcadores de livros e percebi que havia alguns pensamentos em uma das faces dele. Resolvi lê-los.

Vejam amigos leitores e amigas leitoras os pensamentos que estavam escritos no marcador de livro:

1) Queres ser amado? Ame

2) Quem não se ama não pode amar os outros

3) Não proibas ao teu próximo aquilo que autoriza a ti mesmo

4) Prometer algo a uma criança e não cumprir sua promessa é encina-lo a mentir

5) Aquele que não encina uma profissão a seu filho ensina-o a roubar

6) Um homem sem mulher é um homem sem bem, sem aguda, sem alegria, sem benção e sem indurgência.

Terminei a leitura e percebi que apesar da verdade destes pensamentos, eles não tinham autoria e em alguns momentos estavam escritos de forma incorreta.

Atentem para alguns erros mais visíveis:

1) por duas vezes, nos pensamentos quatro e cinco aparece a grafia errada da palavra ensinar: encina-lo e encina; (logo da palavra ensino! Pasmem!)

2) no sexto pensamento encontramos a expressão: sem aguda, o que quer dizer? E ainda indurgência ao invés de indulgência.

Certamente os “profundos conhecedores” da Gramática Normativa encontrarão mais erros de escrita, regências e concordâncias, nestes pensamentos, colocados no marcador de livro. Porém, o que me faz escrever esta crônica é uma reflexão que me veio da observação destes erros: como anda o SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO?

Quem foi o culpado pelos “erros” encontrados no marcador de livro:

1º o livreiro que mandou imprimir os marcadores com os pensamentos e não percebeu os erros?

2º o profissional da gráfica que não se ateve para estes erros?

3º ou o descaso para com a Educação no Brasil?

Certamente que se espera de um sebo, que os seus donos tenham minimamente o conhecimento da língua pátria, talvez, não na sua plenitude, porém, de forma a não ser preciso cometer o erro de escrever ensinar com C ou indulgência com R, não concordam? Será que os pensamentos foram lidos por telefone para um funcionário da gráfica que os escreveu em um papel e mandou prontamente edita-los? Como imaginar que no sebo, estabelecimento onde se vendem livros, e numa gráfica, local onde se imprimem livros, panfletos, faixas, marcadores de livros, etc. ninguém tenha se atentado para tal situação e nos presenteassem com os marcadores?

Na verdade, creio eu, que esta situação é um retrato da Educação que estamos presenciando no País! Quantos jovens terminam o colegial sem saber ler, escrever, sem saber raciocinar e sendo analfabetos diplomados até, nas faculdades que você não exige do aluno quase nada, além de pagar a mensalidade em dia!

No meu estado: é proibido reprovar! Educação continuada. Os alunos da escola pública passam de ano e só na 4ª série é que fazem uma avaliação mais detalhada do estudante. Ouço muitos relatos de jovens que chegam ao 2º grau sem saber ler e escrever minimamente bem. Na escola privada está proibido reprovar, para não perder a mensalidade do estudante! No meu tempo de estudante reprovávamos sim! E certamente, poderíamos enumerar muitos outros problemas.

Qual é a sociedade que almejamos criar, amigos recantistas e amigas recantistas? (Para se alcançar uma vaga de destaque no mercado de trabalho, bem sabemos, que é necessário se expressar com correção, saber o Português na sua variante culta.) Será esta sociedade, em que existem alguns dominadores e uma massa de dominados, que não sabem, minimamente, onde está localizada geograficamente a Argentina e qual é a sua capital? Têm casos que nem o dominador sabe!

Nós precisamos realizar uma corrente solidária para mudar os padrões de avaliação e qualidade do ensino no Brasil. O liberalismo, fortalecido na era FHC e continuado, em parte, pelo governo Lula tem nos dado a resposta de inclusão social do brasileiro na escola: facilitar ao máximo a aprovação do aluno, para que a estatística de analfabetismo caia vertiginosamente, porém, aonde estão os índices de qualidade no ensino? De efetiva aprendizagem? Este marcador de texto é uma prova, que atesta com tristeza e indignação que o Brasil não cuida de seus filhos como eles merecem!

Penso que, tanto o dono do sebo, como o da gráfica e os funcionários dos dois estabelecimentos são vítimas do Sistema Capitalista que trabalha com uma máxima: a da igualdade de oportunidades e não com o princípio justo: o da igualdade de condições com ensino de qualidade para todos. Busca o Capitalista, acredito nesta afirmação, manter o domínio e a alienação do povo que governa dando o privilegio da educação de qualidade apenas para os filhos dos ricos, pois, estes serão parte da classe dominante de amanhã!

Enfim, um povo inculto e alienado é mais facilmente controlado. Um povo bem instruído e que cultiva valores belos e que possui cultura é questionador e capaz de lutar por seus direitos. Torçamos por dias melhores, que a Educação transforme o homem e a sociedade Brasileira.

Fiquemos com Deus, boa semana para todos nós, beijos e abraços, Alexandre!

Alexandre Tambelli
Enviado por Alexandre Tambelli em 29/06/2008
Reeditado em 27/05/2010
Código do texto: T1057621
Classificação de conteúdo: seguro