O PORQUÊ DE ALGUNS
“Procurem outra companhia;
já vejo daqui o fim do meu
caminho” (Collete)
Se escrever é preciso e se dentro de mim dormem palavras, que por favor acordem, desencantem, ordenem-se e dêem vida aos meus pensamentos.
Acredito não ter tido desde a infância respostas para todos as minhas indagações, ( deve ser por isso que elas me perseguem) , se bem que em outra escala. Se leio um texto sinto necessidade de inteirar-me sobre o autor. Isto posto, fico eu a escarafunchar as entrelinhas, sempre em busca de um “por quê”.
Enfim, por que escritores escrevem, quais as razões, os motivos pelos quais os levaram a escrever? Motivada pela curiosidade busquei entre alguns autores os seus ‘porquês’.
E lá vou eu , contrariando gostos - que não se discutem – com ar professoral e didatismo pedante, estribar-me no conhecimento alheio para ilustrar o que ora trato.
Vejamos o que declarou Giovanni Boccaccio (1313/1375): para fugir ao ambiente rígido e ambicioso que o cercava começou aos sete anos de idade, a imaginar fábulas e a escrever contos.
O inglês Henry Fielding (1707/1754), não sabia que profissão abraçar; cocheiro ou escritor? Para ser cocheiro teria de se colocar a serviço de algum proprietário de carruagens, ao passo que, como escritor, necessitava tão-somente de caneta e tinta. Quanto ao papel, poderia aproveitar aquele em que viessem embrulhados o tabaco e o pão. E, diante das opções que se apresentavam, tendia mais a escrever que a mourejar numa carruagem aberta.
Do alemão Wolfgang Goethe (1749/1832), que aos dez anos de idade viu Frankfurt ser ocupada pelos franceses e ouvindo falar essa língua, entusiasmou-se com as referências e os elogios aos escritores franceses; Moliére, Racine e Voltaire, sendo assim motivado pela cultura francesa e não alemã, a seguir a carreira literária.
O francês Honoré de Balzac (1799/1850), desde pequeno tinha um sonho: viver em sociedade entre aristocratas, imortalizado pela atividade literária. Lutou por esse sonho. Não se tornou um aristocrata, mas imortalizou-se como o grande retratista da burguesia do século XIX.
O inglês Charles Dickens (1812/1870), que para curar uma paixão mal-sucedida, iniciou a escrever. E descobriu em si a necessidade de se comunicar com um público maior do que aquele dos salões onde brilhava.
O francês Chaderlos de Laclos (1741/1803). Tornou-se escritor por conta de um desejo: redigir um livro que fizesse escândalo e fosse comentado mesmo depois de sua morte. Desejava escrever contra os aristocratas, visto como parasitas sentados no poder e conquistar a glória através das letras. Conseguiu publicando ‘As Relações Perigosas’, que foi sucesso imediato.
Ditas ass razões que levaram alguns dos meus eleitos a se manifestarem através da linguagem escrita, acrescento que, em se tratando de “vertentes” literárias, deixo com o estimulador da literatura engajada – aquela em que, claramente, tomava partido em cada situação ou momento histórico – Jean-Paul Sartre, a palavra final: “Toda literatura é, a rigor, comprometida, pois mesmo o silêncio constitui uma opção decisiva”.