Crônica para Susana Custódio
Edson Gonçalves Ferreira
Aqui, em Divinópolis, minha portuguesinha querida, não há palácios medievais repletos de História e magia como onde tu moras. Há, contudo, a Avenida 21 de Abril onde nasci e perambulei com meus pais e irmãos e tias e primos e amigos e, também, onde me embalei com poetas como: Bueno de Rivera, Júlio Régis Fuscaldi, Osvaldo André de Melo, Adélia Prado, Rosa de Freitas.
Nessa avenida fica o meu Santuário de Santo Antônio onde, desde os quatro anos de idade, comecei a aprender latim e, depois, tornei-me coroinha, seminarista e, inclusive, aprendi a cantar, participando de corais. O Santuário é todo decorado com pinturas de Frei Umberto Randag, uma beleza indescritível. O santuário, contudo, é belo, muito mais belo, porque é a igreja do meu coração.
Nessa mesma avenida, existe a Praça Governador Benedito Valadares, carinhosamente chamada de Pracinha do Santuário onde, inclusive, o poeta Bueno de Rivera, da I Semana de Arte Moderna Brasileira, recitava poemas meus. Sim, a Pracinha onde, segundo a maestrina Djanira Luiza dos Santos, em sua canção diz: “A praça em sete planos onde os namorados vão amar...”
Prêmio internacional de arquitetura do amigo Dr. Aristides Salgado dos Santos, tem belezas afetivas que, para mim, suplantam até os grandes jardins da França. Sim, porque é a minha praça. Foi ali, antes da construção da praça atual, quando havia apenas um obelisco, que meu avô português Joaquim José Ferreira tocava com a orquestra da minha família. Eu nem era nascido, meu pai era um garoto ainda!
Lá, também, Susaninha, houve os encontros com o título “O livro na praça”, “Praça da Cultura” dos quais participei ao lado de Osvaldo França Júnior, Terezinha Fonseca, Maria de Fátima Batista Quadros, Ziraldo, Adélia Prado, Carlinhos Herculano e onde, também, os artistas plásticos fizeram exposições como: Heraldo Alvim, Eliza Zappalá, Gedley Belchior Braga, Petrônio Bax, Nilton Bueno, Celeste Brandão, GTO, Hevecus, entre outros, tantos outros, amiga!
Sim, minha doce lusitana, estou louco para conhecer o nosso querido Portugal, de onde vieram meus avós. Sou meio brasileiro e meio português. Minhas raízes cruzam o oceano e, portanto, a palavra saudade dói muito em meu peito. Dói tanto que meus olhos castanhos e tristes lembram mesmo as pisadas dos mouros nas velhas ruas onde Camões e Pessoa andaram e onde, hoje, tu e Malu pisais, entre outros amigos.
Aqui, é o rio Itapecerica que corta a minha cidade e não o Tejo e justamente por isso, porque é o meu rio Itapecerica e não o Tejo, que ele tem mais grandeza para mim. Não foi do rio Itapecerica que saíram as naus para as grandes viagens de conquistas. No entanto, foi na Rua da Bela Vista, ao lado do rio Itapecerica, que meu avô construiu a sua casa e criou a sua família. Assim, amo os dois: o Itapecerica e o Tejo e, enfim, todos os rios, porque água é mais sagrada que vinho.
Susana, minha doce Susana, poetisa do Tejo e do além Tejo, bandolim humano, escrevo esta crônica para ti. Sempre cantei a canção “Uma casa portuguesa” e fui criado numa casa luso-brasileira, com vinha no quintal e fabricação de vinho doméstica. Dessa maneira, minha amiga, entendo a largueza do teu coração. Agradeço por tua amizade e disposição para me receber. Antes, contudo, de dizer: _ Eu vou. – eu digo: _Venha! Sim, aqui sempre haverá pão e vinho sobre a mesa e uma canção amorosa para te saudar quando chegares. Grandes beijinhos para ti.