Esperança

Feriado. Sétimo dia de Setembro. Brasil que conta mais um ano de suposta Independência. Diante do espetáculo de patriotismo, o espetáculo da vida rouba a cena. Jovem mulher. Jovem mãe. Sozinha. Em plena calçada defronte ao hospital. Descaso. Sem mais resistência, dá a luz. Sozinha. Sem condições plausíveis. Sozinha. Dor. Medo. Solidão. Seu bebê nos braços. Lágrimas. Misto de emoções.

Feriado. Sétimo dia de Setembro. Brasil que conta mais um ano de suposta Independência. Brasil que conta mais uma criança nascida. Jovem mulher no aguardo de socorro. Diante da cena, aproximam-se aqueles que proferiam discursos políticos e protestos. Comoção. Silêncio. Silêncio... Um choro. Choro da criança que acabara de nascer. Sem cuidado algum. Comoção. Ao ver aquela criança tão desprotegida, uma iniciativa: o grupo de protestantes estende no chão uma bandeira. A criança é acolhida no manto da nação.

Feriado. Sétimo dia de Setembro. Brasil que conta mais um ano de suposta Independência. Brasil que conta mais uma criança nascida. Envolta na bandeira da nação, tão inocente. Envolta na bandeira da nação, tão serena. – “De sua formosura, deixai-me que o diga: é tão belo como um sim numa sala negativa”. Não se sabe seu futuro, sua futura profissão: Uma médica. Uma professora. Uma cientista. Uma doméstica. Só uma certeza: Uma brasileira.

Feriado. Sétimo dia de Setembro. Brasil que conta mais uma criança nascida. Olhos tão verdes quanto a maior parte do manto que lhe envolve. Verde tal qual a esperança que carrega. Esperança de um futuro digno. Um futuro promissor. Promissor! Ou apenas a sobrevivência... Dia após dia.

Feriado. Sétimo dia de Setembro. Enfim portas abertas. Luz no fim do túnel. Vaga no leito do hospital público. Primeiros socorros, tratamentos finalmente adequados. Criança saudável. Saudável! Mãe tranqüilizada.

Feriado. Sétimo dia de Setembro. Brasil que conta mais uma criança nascida.

Nos braços da mãe, sono profundo. Nos pensamentos da mãe, as incertezas. Incertezas. Dias se passam. Incertezas. Futuro incerto. Resta apenas a crença em Esperança. Sua filha recém-nascida.

Dia qualquer. Mais um dia do mês de Setembro. Brasil. “Belo porque tem do novo a surpresa e a alegria. Belo como coisa nova na prateleira até então vazia. Como qualquer coisa nova inaugurando o seu dia. Ou como o caderno novo quando a gente principia”. Brasil. Mãe. Futuro incerto. Apenas uma certeza: A Esperança. Esperança que carrega em seus braços. Esperança. Companheira. Toda a vida.

Lucy Araphie
Enviado por Lucy Araphie em 28/06/2008
Código do texto: T1055869
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