Superman

   Lembro de você quando criança, tu eras meu herói favorito. Eu crescia, não entendendo muito bem os problemas de nosso mundo, mas sabia que tua força iria nos livrar do trágico. Tu sempre vencias. Eras imbatível. Uma derrota sequer.
Hoje, depois de homem, sinto tua falta. “Por que caístes do cavalo?” Como deixastes isso acontecer? Algum inimigo invisível?

   No desastre da Gol, aquele avião desgovernado em queda livre, certamente tu chegarias numa velocidade supersônica e com tua força incalculável interromperias o choque, salvarias centenas de vida. Num gesto de gratidão, tu serias aplaudido pela platéia. Notarias com visão de raios-x um sorriso de criança, grata por teres salvado a vida de seus pais. Sairias com gostinho do dever cumprido mais uma vez. Missão de proteger a humanidade.

   E o avião da TAM? Mesmo que houvesse a colisão, tu chegando com a nave ainda em chamas, encheria teus pulmões com um sopro de tufões, apagaria aquele incêndio. Mais uma vez aclamado. Ali em Congonhas mesmo. Manchete de jornais.
- Extra! Extra!
- Viva ao nosso herói!

   Ah Superman. Por que partistes? Deixando milhões de órfãos. Sem nenhum protetor. Saudades tua.

   Quanto não tentei ficar parecido contigo. Mãos cerradas ao ar, imaginando teu vôo. Toalha amarrada ao pescoço. Livre. Leve. Solto. Pássaro. Avião. Superman.
Terremotos. Tsunamis. Ciclones. Quantas vidas estariam salvas? Tu voarias até a órbita do planeta e em sentidos contrários à translação e rotação, mudarias o curso de nosso destino. Sanaria minha saudade de ti.

   E nossos inimigos mais cruéis? Anões do orçamento. Máfia das propinas. Congresso Nacional. Banda podre. Valérioduto. Lalaus... Convocarias a Liga da Justiça e farias prevalecer à verdade. Alguns de nossos políticos estariam exilados numa galáxia qualquer, pois tu saberias que se os prendessem por aqui, teu maior inimigo, Lex Lutor; mandaria solta-los. Que falta faz teu bom senso e inteligência. Senso de heroismo inocente. Improvável encontrar outro herói assim. Voluntário. Vivias de gratidão. Impossível alguém com tamanha bondade.

   Como desejei ter mulheres iguais Lois Lane, eternamente apaixonada por ti. Quanto te invejei naquele vôo com ela nos braços. Tentei te copiar, não consegui. Minha força humana não foi capaz de preencher todos os caprichos femininos. E quando achei que tivesse satisfeito-as, sempre tinha algo mais impossível, inimaginável. 

   Ah Super Homem. Por que não repassastes à mim metade de teu poder? Voaria até Natal, deleitar-me-ia no Sítio... Que fosse por um dia. Homem de Aço. Protetor dos fracos e oprimidos.

   Por aqui, deixastes muitos Kent´s. Inseguros. Incapazes. Escondidos. Esperando momento oportuno prá se mostrar.
Pra quê cavalgar se tu voavas? Agora milhares de anos luz. Distante. Em Krypton celestial. Quem sabe? Kal-El, filho das estrelas. E no repouso dos Deuses, tu que olhas aqui pra baixo, deves estar a pensar o quanto é duro ser herói neste Brasil.

Sidrônio Moraes
Enviado por Sidrônio Moraes em 28/06/2008
Reeditado em 28/03/2009
Código do texto: T1055558
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