NOSSO BARZINHO VAI FECHAR !!!

 

   Tenho más notícias prá minha meia dúzia de leitores. Nosso barzinho vai fechar. Para reformas, mas vai fechar. Sim, estou falando do mesmo barzinho que já foi cenário de algumas de minhas crônicas e que é de propriedade de um simpático casal de portugueses.

    Sei que a notícia é chocante e imagino o ar de surpresa e decepção de quem não conhece aquele lugar e que nunca provou os deliciosos bolinhos de bacalhau com aquele chope delicioso (o meu, sempre com colarinho).

    Eu e os companheiros habituais das sextas feiras estamos arrasados. Tristes mesmo. Nem o desconto de sessenta por cento nas despesas que nos foi prometido só naquela noite pelo português, dono do bar , nos consolou. A verdade é que estávamos nos sentindo verdadeiros órfãos.

    Por aquelas mesas e cadeiras quantos personagens estiveram presentes ! Naquele balcão, quantas mãos engorduradas esfregaram aquele tampo escuro ! E os bolinhos ? Onde poderíamos encontrar bolinhos iguais ou mais gostosos ?

    O clima naquela sexta-feira era de um autêntico velório. Todos conversavam em voz baixa. Não se via ou não se ouvia nem um sorriso. Nada de piadas ou de tolas apostas. Até o chope parecia estar mais amargo. De fato, ninguém estava à vontade.

    Nisso, naqueles momentos em que ninguém tem assunto e que nossa distração era ficar olhando para as bolhas que fervilhavam nos copos de chope, eis que entra o nosso grande (grande em todos os sentidos) João Leitão.

   Espalhafatoso e barulhento como sempre, aos berros dizia que estávamos salvos, pois ele acabara de ser informado que na outra esquina tinha um bar de espanhóis, que segundo ele nos receberia muito bem. Perguntamos se lá tinha chope.

    Claro que tinha chope gelado. Imagina, barzinho de sexta feira que não tivesse chope ! Tinha bolinhos de bacalhau ? Não, não tinha bolinhos de bacalhau. O salgadinho principal eram empadinhas e segundo informações vindas de fonte segura, eram empadinhas de vários sabores.

    Perguntamos se empadinha combinava com chope. A resposta não deixou dúvidas. Se feijão combina com arroz, queijo com goiabada e café com leite, porquê chope não pode combinar com empada ?

    O grande problema é que estávamos acostumados com bolinhos de bacalhau e além do mais, empadinha desmanchava na mão antes de chegar até a boca e invariavelmente, sujava a camisa.

    Pedimos outra rodada de chope e aquela que seria a última travessa de bolinhos de bacalhau antes do recesso. Ninguém estava convencido de que empadinhas pudessem substituir os bolinhos de bacalhau.

    Não sei se acontece a mesma coisa com meus amigos leitores (se não me engano são só meia dúzia) mas não consigo comer nada que tenha molho sem deixar pingar na camisa. É molho de tomate, maionese, mostarda, azeite, óleo (certa vez deixei cair algumas gotas de vinho numa camisa branca) , gorduras e com as empadinhas, quando esfareladas, seria difícil que não deixassem marcas nas roupas.

    E depois tinha mais uma coisa. Já estava acostumado com o sotaque dos portugueses e. todas as vezes que íamos ali, sentávamos à mesma mesa e eu na mesma cadeira. Tínhamos criado raízes.

      Nossos estômagos já estavam acostumados com o tempero dos bolinhos de bacalhau. A digestão ficava fácil. Além do mais, no novo bar talvez não fizessem empadinhas de bacalhau e . perderíamos muito tempo para nos acostumar com os novos temperos.

     Nosso grupo ficou dividido. Uns achavam que devíamos continuar fiéis aos bolinhos de bacalhau e com aquele barzinho fechado, o melhor era tomar sopa todas as sextas feiras em casa.

    Já outros, mais radicais, consideravam que em se tratando de chope, não poderia existir fidelidade e o único detalhe importante é que estivessem super gelados (o meu sempre com colarinho).

    Já os restantes, tinham opinião completamente diferente. Achavam que todos poderiam fazer uma visitinha ao novo bar, com a preocupação de não deixar fincar raízes e a bem da verdade, não custava nada experimentar umas empadinhas de vez em quando.

    O assunto foi submetido a votação mas antes, para iluminar nossas idéias foi servida nova rodada de chopes e mais bolinhos. O tempo passava, a discussão aumentava, não houve acordo e chegamos ao cúmulo de propor um abaixo assinado para que fosse proibida a fabricação de empadinhas de bacalhau.

    Primeiro porque nunca tínhamos ouvido falar de empadinhas de bacalhau e segundo por que, poderíamos nos acostumar com empadinhas de “romeu e julieta” , “cebola” ou maçã com canela” o que, convenhamos, poderia estragar o gosto do chope.

    E então alguém propôs uma solução salvadora. E se mudássemos para um outro bar que servisse só galetos com batata frita ? Os dois combinavam e não teriam nenhuma influência no sabor do chope. Houve alguns protestos. Naquela altura da noitada não íamos nos entender mesmo e para dar um basta no assunto, pedimos mais uma rodada de chopes e outra travessa de bolinhos com bastante azeite.

   Bebemos e comemos em silêncio. Quando a discussão ia novamente começar alguém se lembrou de olhar para o relógio. Eram onze e meia. Nossas patroas iam nos matar, com certeza. Pedimos a ultima rodada da noite e combinamos que na próxima sexta -feira, ficaríamos um pouquinho em cada barzinho, tanto no que servia empadinhas (só não íamos comer as de bacalhau) quanto no dos galetos com fritas.

    O que uma rodada de chopes não faz......

 

 

 

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(.....imagem google.....)


WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 28/06/2008
Reeditado em 23/01/2013
Código do texto: T1055425
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