Sua Majestade, o bode
1. Começo esta crônica pedindo licença para chamar o bode de "Majestade". Por que não? Luís da Câmara Cascudo, escrevendo sobre o cachorro, chamou o cão de "Excelência".
2. Antes de falar sobre o bode, duas palavrinhas sobre a cabra. É impossível escrever sobre o bode deixando a cabra de lado. Sabe-se da sua enorme importância na vida do sertanejo no nordeste brasileiro.
3. A cabra vem de longe. Câmara Cascudo conta, in Coisas que o povo diz, que o arqueólogo Wooley "encontrou em Ur, na Caldéia, 3 500 antes de Cristo, estatuetas de cabras, erguidas nas patas, deliciosamente esculpidas em madeira, incrustadas de ouro e lápis-lazúli".
4. Mais adiante ressalta que "foi o leite de cabra a grande alimentação da criança no Brasil-velho e não o das vacas". Só no Brasil velho? Não.
5. Hoje, por este Nordeste afora, desenvolvem-se promissores programas de valorização da cabra, pois, seu leite - "mais grosso, substancial, robustecedor" - alimenta comunidades pobres sem acesso fácil ao leite da vaca.
6. Animal de grande fortaleza, levou Câmara Cascudo a fazer esta interessante observação: "O mais difícil no sertão é o jumento morrer de fome e a cabra de sede. O primeiro come tudo. A segunda quase não bebe."
7. O que me faz escrever sobre o bode? O respeito que tenho pelo que ele de bom tem dado ao sofredor povo do nordeste. Estive recentemente no sertão pernambucano. Em Petrolina, onde passei com Ivome o são-joão, sua carne é disputadíssima.
8. Nessa simpátia cidade de Pernambuco, durante os festejos joaninos, a carne de bode é a principal atração gastronômica; chega a desbancar a canjica, a pamonha e o milho verde, tradicionais quitutes das noites de São João.
9. Em torno de um bode assado, famílias inteiras se reunem em animados papos; em torno de um bode assado, amigos se juntam, nos enfeitados bares e botecos da cidade em festa, curtindo o som dos baiões gonzaguianos.
10. Em Petrolina existe o Bodódromo. O que é o Bodódromo: um enorme espaço, com dezenas de restaurantes, onde são servidos pratos típicos da cozinha nordestina, com destaque para o bode assado. Em frente ao Bodódramo, foi erguida uma enorme estátua do caprino, homenagem do povo do pernambucano.
11. Deixei Petrolina satisfeito com essa e outras homenagens prestadas pelos pernambucanos à Sua Majestade, o bode, um ícone do sertão.
12. Queria aproveitar a oportunidade para denunciar, com tristeza, o que andam fazendo com outro animal-símbolo do nordeste, o jumento.
13. Nossos queridos e pacientes jegues estão sendo abandonados pelos seus antigos donos! Dezenas perambulam, sem destino, pelas estradas e rodagens. Aqui e acolá um morre atropelado, para alegria dos urubus.
14. Ainda bem que Patativa do Assaré se lembrou deles. No seu poema Meu Caro Jumento, lê-se estes formidáveis versos: (...) "Merecia até morá/ Num jardim belo e perfeito/ Mode todos visitá/ Com amor e com respeito./ Basta a gente maginá/ Que de todos os animá/ Que esta grande terra cria/ E tem o nome na história,/ Só você teve a gulora/ De carregá o Missia."
15. O jumento, meus distintos sertanejos, brasileiros do nordeste, como o bode, também merece ter estátua nas praças públicas de todas as cidades do sertão nordestino. É justo.
1. Começo esta crônica pedindo licença para chamar o bode de "Majestade". Por que não? Luís da Câmara Cascudo, escrevendo sobre o cachorro, chamou o cão de "Excelência".
2. Antes de falar sobre o bode, duas palavrinhas sobre a cabra. É impossível escrever sobre o bode deixando a cabra de lado. Sabe-se da sua enorme importância na vida do sertanejo no nordeste brasileiro.
3. A cabra vem de longe. Câmara Cascudo conta, in Coisas que o povo diz, que o arqueólogo Wooley "encontrou em Ur, na Caldéia, 3 500 antes de Cristo, estatuetas de cabras, erguidas nas patas, deliciosamente esculpidas em madeira, incrustadas de ouro e lápis-lazúli".
4. Mais adiante ressalta que "foi o leite de cabra a grande alimentação da criança no Brasil-velho e não o das vacas". Só no Brasil velho? Não.
5. Hoje, por este Nordeste afora, desenvolvem-se promissores programas de valorização da cabra, pois, seu leite - "mais grosso, substancial, robustecedor" - alimenta comunidades pobres sem acesso fácil ao leite da vaca.
6. Animal de grande fortaleza, levou Câmara Cascudo a fazer esta interessante observação: "O mais difícil no sertão é o jumento morrer de fome e a cabra de sede. O primeiro come tudo. A segunda quase não bebe."
7. O que me faz escrever sobre o bode? O respeito que tenho pelo que ele de bom tem dado ao sofredor povo do nordeste. Estive recentemente no sertão pernambucano. Em Petrolina, onde passei com Ivome o são-joão, sua carne é disputadíssima.
8. Nessa simpátia cidade de Pernambuco, durante os festejos joaninos, a carne de bode é a principal atração gastronômica; chega a desbancar a canjica, a pamonha e o milho verde, tradicionais quitutes das noites de São João.
9. Em torno de um bode assado, famílias inteiras se reunem em animados papos; em torno de um bode assado, amigos se juntam, nos enfeitados bares e botecos da cidade em festa, curtindo o som dos baiões gonzaguianos.
10. Em Petrolina existe o Bodódromo. O que é o Bodódromo: um enorme espaço, com dezenas de restaurantes, onde são servidos pratos típicos da cozinha nordestina, com destaque para o bode assado. Em frente ao Bodódramo, foi erguida uma enorme estátua do caprino, homenagem do povo do pernambucano.
11. Deixei Petrolina satisfeito com essa e outras homenagens prestadas pelos pernambucanos à Sua Majestade, o bode, um ícone do sertão.
12. Queria aproveitar a oportunidade para denunciar, com tristeza, o que andam fazendo com outro animal-símbolo do nordeste, o jumento.
13. Nossos queridos e pacientes jegues estão sendo abandonados pelos seus antigos donos! Dezenas perambulam, sem destino, pelas estradas e rodagens. Aqui e acolá um morre atropelado, para alegria dos urubus.
14. Ainda bem que Patativa do Assaré se lembrou deles. No seu poema Meu Caro Jumento, lê-se estes formidáveis versos: (...) "Merecia até morá/ Num jardim belo e perfeito/ Mode todos visitá/ Com amor e com respeito./ Basta a gente maginá/ Que de todos os animá/ Que esta grande terra cria/ E tem o nome na história,/ Só você teve a gulora/ De carregá o Missia."
15. O jumento, meus distintos sertanejos, brasileiros do nordeste, como o bode, também merece ter estátua nas praças públicas de todas as cidades do sertão nordestino. É justo.