Feniletilamina.

' Euforia. Tormento. Noites em claro. Dias parados. Sonhar acordada em frente do computador. Esquecer a bolsa no supermercado. Segue reto onde devia parar. Fala sozinha em voz alta enquanto caminha. Planeja o que lhe diria ou que deveria ter-lhe dito. O que dirá no próximo encontro. Corre riscos bobos. Fala bobagens. Ri demais. Um riso diferente, um riso que vem do fundo. Revela segredos. Passeia de madrugada. Alguma coisa que ele disse ainda ecoa nos seus ouvidos. Vê seu sorriso quando fecha os olhos. Guarda como um tesouro as entradas dos filmes a que assistiram juntos. Que pensaria ele do livro que está lendo? Um perfume desperta inúmeras lembranças. Chora em média de cem lágrimas por noite. Não consegue chorar. E dorme mais ou menos umas 4 horas por dia. Perde fome, mas, de vez em quando assalta a geladeira às 6 horas da manhã. Acredita que o reconheceu na escuridão das boates e de depois nota que se enganou. Escreve seu nome nos guardanapos sujos, em seu caderno e suas mãos tremem quando atende o telefone. Sente o sangue pulsar em seus ouvidos. Um telefonema poderia abrir as portas do céu. Sempre esquece a torneira do chuveiro aberta. Acaricia crianças na rua e cachorros sarnentos que atravessam as calçadas. Quando caminha ao seu lado, sempre pensa que vai cair e tenta lembrar-se como diabos se anda. Descobre que está imitando os gestos dele. Repetindo suas frases quando está conversando.

Bebe muito. Come chocolate. Deixa as chaves na porta. Quando dorme sozinha, abraça o travesseiro. Valoriza casa minuto que estiveram juntos. Sabe o tamanho de seu casaco, de suas calças e tênis. Telefona para sua casa quando sabe que ele não está. Delicia-se ouvindo a voz dele na secretária eletrônica. Ele gosta da cor da sua lingerie, e ela veste uma saia, a primeira em um ano. Enumera seus defeitos para não idealizá-lo. E acaba por pensar apenas em suas virtudes. Nada setenta vezes o comprimento da piscina. Sem pausa. Tenta pensar apenas nas braçadas e na água. Ele ligou.. será que deve atender? Sai tremendo de frio e não consegue esquecer. Não faz tanto tempo assim que ela decidiu partir. Mas ele ainda a chama indiretamente. Diz que não é para o esquecer, muito menos o que tiveram juntos. Ela foge. Lê livros de auto- ajuda que não gostaria ler. Aluga vários filmes de romance. Fala sozinha no carro, ou com desconhecidos. Pintou de preto as unhas dos pés. Sempre chega atrasada em encontros. Grita como uma louca debaixo de um jato d'água.

Fica gelada com qualquer gesto que ele faça. Escreve para ele cartas absurdas que nunca foram enviadas. Redige bobagens sem pé nem cabeça.

Desconfia que a química não faria nada por ela. '