Traumas de um Sorriso
Era sua primeira vez. Estava nervoso de pernas bambas. Coração batendo forte, agoniado. E como todo minerim desconfiado, ouvira falar da tal emoção, mas suspeitava se na hora H o “trem” ia subir mesmo.
Tomou uns comprimidos uma meia hora antes que nem sequer surtiu efeito. Estava apavorado.
Olhava a moça que lhe sorria de pé. Consternado, imaginava se aquele sorriso era para ele ou caçoando dele. Ficou intrigado, ameaçou levantar e tomar satisfação. Desistiu. Ah rapariga aventureira! Hospedeira de sorriso branco! Certamente não seria marinheira de primeira viagem.
Incomodava-o aquela beleza a sua frente exprimindo emoção, sentia-se impotente. Simpatia ou ironia? Percebera insuficiência emocional? Algo no ar estava prestes por vir, precisava controlar-se. Seria vexame.
Sentindo-se frágil mediante uma situação tão simplória, teve vontade de chorar. Resistiu. Afinal quantos não já teriam passado por tal experiência? Sabia que depois daquela viria muitas outras e precisaria tomar coragem. Perder o medo.
Fitou-a novamente e percebeu grandes olhos azuis. Contrastou-os naquele cenário. Beleza feminina. Imediatamente julgou o porquê de todas em sua profissão serem maravilhosas. Tempo e movimento com muita classe... E aquele riso que não saíra do rosto? Tão belo e maquiavélico, parecendo dar bom dia ao capeta.
Tentou esvaziar a mente, trazer pensamentos que inspirassem confiança. Chegaria lá, precisava. Por um instante sua vida passou num piscar de olhos e viu como fora curto seu trajeto, ainda teria muito a caminhar. Lembrou-se de quando criança, saltando, pulando, pendurando... Tomou fôlego. Necessitava ser valente. Enxergou novamente a jovem, naquele cinismo angelical.
Pensou em como teria sido a primeira vez dela. Assustada com aqueles olhos anis arregalados, provavelmente sentira o mesmo comichão na barriga, trêmula, desconfiada, apavorada. Mas superara o trauma, senão estaria com essa cara de anjo sádico. Exatamente. Rindo de sua inquietação.
Repentinamente ela dar alguns passos em sua frente e dita as regras da direção.
- Atenção, senhores passageiros, apertem os cintos na posição horizontal. Em caso de emergência, máscaras de oxigênio descerão sobre cada um dos acentos, devendo ser colocadas no rosto da maneira indicada (...).
A cada instrução de segurança que era passada, aquele sorriso tornava-se desconcertado e perdera sua característica ardilosa. Notava claramente a mudança em seu riso. Barulho de turbinas. Riso incerto. Arremeteu. Decolou. Silenciou.
Dormiu. Sonhou com aquele sorriso. Insano. Inseguro. Infiel. Traumático.
27/06/2008
Samuel Moraes
Era sua primeira vez. Estava nervoso de pernas bambas. Coração batendo forte, agoniado. E como todo minerim desconfiado, ouvira falar da tal emoção, mas suspeitava se na hora H o “trem” ia subir mesmo.
Tomou uns comprimidos uma meia hora antes que nem sequer surtiu efeito. Estava apavorado.
Olhava a moça que lhe sorria de pé. Consternado, imaginava se aquele sorriso era para ele ou caçoando dele. Ficou intrigado, ameaçou levantar e tomar satisfação. Desistiu. Ah rapariga aventureira! Hospedeira de sorriso branco! Certamente não seria marinheira de primeira viagem.
Incomodava-o aquela beleza a sua frente exprimindo emoção, sentia-se impotente. Simpatia ou ironia? Percebera insuficiência emocional? Algo no ar estava prestes por vir, precisava controlar-se. Seria vexame.
Sentindo-se frágil mediante uma situação tão simplória, teve vontade de chorar. Resistiu. Afinal quantos não já teriam passado por tal experiência? Sabia que depois daquela viria muitas outras e precisaria tomar coragem. Perder o medo.
Fitou-a novamente e percebeu grandes olhos azuis. Contrastou-os naquele cenário. Beleza feminina. Imediatamente julgou o porquê de todas em sua profissão serem maravilhosas. Tempo e movimento com muita classe... E aquele riso que não saíra do rosto? Tão belo e maquiavélico, parecendo dar bom dia ao capeta.
Tentou esvaziar a mente, trazer pensamentos que inspirassem confiança. Chegaria lá, precisava. Por um instante sua vida passou num piscar de olhos e viu como fora curto seu trajeto, ainda teria muito a caminhar. Lembrou-se de quando criança, saltando, pulando, pendurando... Tomou fôlego. Necessitava ser valente. Enxergou novamente a jovem, naquele cinismo angelical.
Pensou em como teria sido a primeira vez dela. Assustada com aqueles olhos anis arregalados, provavelmente sentira o mesmo comichão na barriga, trêmula, desconfiada, apavorada. Mas superara o trauma, senão estaria com essa cara de anjo sádico. Exatamente. Rindo de sua inquietação.
Repentinamente ela dar alguns passos em sua frente e dita as regras da direção.
- Atenção, senhores passageiros, apertem os cintos na posição horizontal. Em caso de emergência, máscaras de oxigênio descerão sobre cada um dos acentos, devendo ser colocadas no rosto da maneira indicada (...).
A cada instrução de segurança que era passada, aquele sorriso tornava-se desconcertado e perdera sua característica ardilosa. Notava claramente a mudança em seu riso. Barulho de turbinas. Riso incerto. Arremeteu. Decolou. Silenciou.
Dormiu. Sonhou com aquele sorriso. Insano. Inseguro. Infiel. Traumático.
27/06/2008
Samuel Moraes