Criatura de papel

Desde pequena convivia com os livros,adorava as histórias,viajava nos

lugares e

situações apresentadas pelos autores.Seu pai lhe deu um livro numa noite de inverno.Seu universo se transformou.As brincadeiras com as crianças da vizinhança,os passeios,a escola,nada lhe interessava.Ansiava pelo anoitecer,pois junto aos livros adormecia e sonhava os sonhos mais maravilhosos!Se encantava com os heróis: corajosos,abnegados,capazes de suportar os sofrimentos,arriscando até as suas vidas pelo bem comum.

Amava aquelas criaturas compostas por palavras,feitas nos papéis,rabiscadas

em algum rascunho,até se tornarem entidades verbais.

Numa tarde chuvosa de fevereiro de 73,quarta-feira de cinzas,dia do seu

aniversário.

Missa de sétimo dia da morte do seu pai.Lembrou do que ele sempre lhe

pedia:-Filha ,fica sempre criança,para poder caber no meu colo.

Recordou também as personagens que habitavam as tantas e tantas histórias

que conheceu.Concluiu precocemente que:o que na vida real denominamos como

erros,nas histórias quase sempre são falhas nas construções das personagens.

Otília Noronha
Enviado por Otília Noronha em 27/06/2008
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