Passo a passo
A vida é como uma carrapeta. Se apertarmos demais estoura, se arrochamos de menos vaza. E não nos damos conta disso, continuamos nos enforcando com barbantes de péssima qualidade.
Na hora dos embates as palavras ganham dimensões dantescas e às vezes fantasmagóricas. Não conseguimos colocar um ponto final nas discussões. Vamos protelando as decisões para um segundo turno, uma segunda etapa, isto quando não levamos a contenda para a marca do pênalti. Nada parece ter fim.
Olhe para mim, veja se tenho cara de gladiador. Minha mãe fala que não, diz que sou uma gracinha, um amor de pessoa. Na rua me chamam de machão, na escola é Pedrinho, no futebol sempre foi frangueiro.
Tenho consciência de minhas limitações como amante. Por isso, ando preocupado com minhas atitudes. Tudo que faço, faço com o desejo de apaixonar-me, de tornar-me um homem mais interessante, desprovido de vaidade ou qualquer outro adjetivo correlato ao desamor. Se eu fosse menos cabeça-dura não seria necessário esforçar-me com tanta destreza e nem minha amada teria que se sacrificar para acolher-me em seus frágeis braços.
Às vezes mergulho no vale que verte do meu Eu. Nele e só nele é que devo encontrar as palavras que necessito. O pássaro que mora em mim, não está equivocado, nem perdido. Voo com ele para outros templários na tentativa de apreender o seu canto para que minha fala fique mais doce e melodiosa quando dela fizer uso na hora das confissões.
De quando em vez penso que este mundo é irreal. Minha imaginação constrói falas perigosas, discursos que podem nos destruírem e nos apodrecerem por dentro. Ainda assim, acredito que podemos construir um mundo melhor onde se possa colher flores azuis em campos silvestres. Onde sabiás cantarão hinos desprovidos de quaisquer perigo ou ameaça de extinção.
Se todos os homens fossem sãos e todas as coisas fossem fáceis, certamente teríamos que dispor de menos esforços. Tenho lutado contra mim mesmo, uma luta ingrata. Sempre perco pedaços importantes. A dor reside no desamor, no espedaçar-se e não nas partes desgarradas.
As palavras muitas vezes estranhas para nós, podem ser o início, os primeiros passos para a construção de um mundo melhor.
Estou estudando novos vocábulos, estou tentando colocar-me em marcha.