Rabo de Foguete
As espadas estão de volta. A época de São João está virando um outro carnaval nos estados do norte e nordeste, é, cá entre nós, eu prefiro as festas juninas aos três dias da folia momesca.
Folia mesmo é segurar numa espada, toco de bambu reforçado com amarras de corda, cheinho de pólvora socada com barro. Depois toca-se fogo no pavio e o que se tem é uma autêntica arma de guerra, uma espada de fogo capaz de encher os olhos de um Obi-wan, cannobi, ou cannabis, segundo os mais afoitos, e de rivalizar com a espada de luz de guerra nas estrelas. As guerras de espadas são, também, guerras nas estrelas, sim, estrelinhas de São João, ou uma enxurrada de fogo das espadas,verdadeiros rabos de foguete, prontas a queimar e a fazer vítimas.
E todo ano é a mesma coisa. Carnaval aqui, Farra do boi acolá, guerra de espadas no São João, parece que o povo necessita dessa perturbação das rotinas tão rotineira e previsível que a todo o ano faz as suas vítimas, o sacrifício anual de alguns para que tudo continue a acontecer dentro da previsibilidade.
E, maravilhados vemos as espadas, que como mísseis são capazes de voar com sua auto propulsão ‘a jato, parece que estamos inventando a pólvora, coisa que os chineses fizeram há mais de mil anos.
Ah esses chineses! Inventaram a pólvora, a bússola, a imprensa, o macarrão e muitas outras bugingangas que só agora estamos apreciando. Que será que eles poderão inventar no futuro? O comunismo capitalista? A bolha inflacionária que não explode?
Enquanto aguardamos que a inflação promovida globalmente corroa nossas recentes conquistas de país sério, nada melhor que acender algumas espadas cheias de pólvora, e ver queimar nossas angústias em meio aos fogos das brincadeiras juninas, sentindo o ar frio da noite e o calor de uma quentão.