QUANDO EU MORRER NÃO ME ENTERREM NA LAPINHA
Quero que as minhas cinzas sejam distribuídas pelos lugares que passei e me deixaram saudades, quero que elas sejam misturadas a rações de pássaros livres na natureza, sejam jogadas no rio amazonas, no lago Igapó de Londrina, onde quando criança pesquei tantos lambaris, nas Fazendas de Café de Minas onde me apaixonei pelos canários da terra, e na antiga Maratã no Paraná e agora também em Goiás, onde andei até não puder mais a cavalo, em alguns lugares mais em outros simples dedal de cinzas, mas nunca me enterrem na lapinha, pois de lá nada tenho a ver.
Joguem dois dedais na frente da casa que nasci em Guaraci, um copo na Rua Generoso Marques, 45 em Londrina onde os fundamentos da minha vida foram alicerçados. Se tiver um lugar nestas naves que vão à lua, arrumem para que lá me levem um dedal que seja, pois não me canso de admirá-la. Não preciso de placa nem laje com as minhas datas, nascedora e finda, quero ser sonegado aos vermes. Quero que as minhas cinzas adubem um pé de jabuticaba, de tangerina, de limão capeta e também um pé de jaca. Se tiver uma parreira de uva também pode ser.
Aos meus contemporâneos não se preocupem, pois esta mensagem não é para vocês, mas para os meus bisnetos depois que eles fizerem 50 anos...é que ainda não tenho netos. Será que até lá vamos ter selva amazônica? Tomara que sim, ainda que seja internacionalizada. Estava esquecendo o pantanal mato-grossense que conheci, jogue lá em seus rios, Formoso em Bonito onde se encontrar um cardume de piraputanga um pouquito de minhas cinzas misturadas em pedaços de pão. Quando pressentir que estou de partida, procurem no Alto Xingu a tribo do pajé que convidou Orlando Vilas Boas para morrer junto com sua gente, pois branco não sabe morrer, e me levem prá aprender e exercer. Comigo não vai ter "Desliguem as máquinas, pois nem quero que as liguem: Deixem eu ir, deixem eu ir, manso e suave, sem medo de Não ser feliz.