Aedes, o prepotente

O mosquito da dengue está aí, soltão, o que não é mais novidade. Tudo bem que as campanhas oficiais, privadas ou “ongnadas” foram desencadeadas e sensibilizaram, já, milhares de pessoas. Vale aí o trabalho exaustivo do pessoal dos centros de zoonozes, dos departamentos de epidemiologia, dos professores em especial, assim como dos bombeiros e funcionários da saúde publica em geral. Para essa turma, temos que registrar muitos aplausos. Não fosse assim, particularmente aqui na nossa região, essa coisa de dengue já teria proliferado a níveis incontroláveis, como em outras cidades.

Eu acho que, no fundo, no fundo, esse mosquitinho listrado impertinente está é se aproveitando da fama para garantir seu momento de glória entre os mortais. Metido a besta que só ele, vangloria-se do nome de batismo – olhem só, o luxo: Aedes aegypti – pra tentar nos humilhar de alguma forma, como por exemplo, só mostrar a cara em água limpa. Onde já se viu isso, um mosquito peba qualquer, optar por água limpinha, parada, e sair por aí de dentro de lindas bromélias pra azucrinar a vida alheia? É o fim dos tempos!

Acho que a insolência desse tal Aedes tem uma explicação antropológica: ele deve ser parente distante, porém direto de Cleópatra, outra insolente que deitou e rolou impune em cima e embaixo dos seus súditos aegypi e ficou por isso mesmo.

Mas o que mais me incomoda nesse listrado traficantezinho de vírus é nomear o mal que causa com a palavra dengue. Pelo menos alguém de bom senso tirou o acento agudo da última vogal logo que o dito cujo decidiu que o dano iria se chamar dengué. Para quem não sabe, dengué é um prato comum na Bahia, originário da culinária afro-brasileira, feito com milho branco cozido e açúcar. Uma delícia, por sinal.

Pois creiam que esse marginal também tentou usar o termo dengo, mas aí as caboclas faceiras cheias de requebros e melindres bloquearam as estradas ateando fogo em pneus, fizeram protestos em frente de faculdades e em terminais rodoviários e o sujeito acabou se afastando em busca de novos rumos para o sucesso.

Daqui do meu canto, eu acho que esse Aedes não passa de um idiota de pijama. Os meus mosquitos prediletos, esses que ficam à tarde colados nas barracas de acampamento, nas bordas dos rios ou nos cantos escuros debaixo da cama só pra fazer sua transfusãozinha básica, são mais importantes. Nem por isso saem por aí fantasiados de abelha-rainha. Então, não merecem a atenção da mídia, apesar do nome pomposo que têm, e o que é melhor, sem qualquer vínculo com imperadores egípcios, gregos ou troianos. Chamam-se Dípteros culicídios.

Se quisessem, os nobres representantes da família dos culicídios poderiam humilhar o aedes durante seus doze dias de vida. O único problema seria, a meu ver, a possibilidade de revide ou retaliação, o que colocaria por terra seca toda a dignidade da minha espécie predileta. Isto porque (não sei quem foi que inventou isso, talvez a própria família aegypsi, quem sabe) em algumas regiões do nordeste os nobres dípteros culicídios são chamados de bichas de rabear.

Elber Suzano
Enviado por Elber Suzano em 26/06/2008
Código do texto: T1053100
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