EIA, POIS!

Você já viu alguém sentado de pernas cruzadas, os olhos fechados, falando: Ooooongnamuuuur, gurudeive namuuur, ooooongnamur gurudeive namuuuur..., diversas vezes seguidas? Esse é um mantra, normalmente falado pelo pessoal da Yoga, que, aliás, é um barato.
 
Não entendo muito bem de mantras, mas penso que é um som que ao ser emitido no universo, chega a Deus. Um negócio parecido com as orações do Pai Nosso, da Ave Maria, da Santa Maria, do Credo, da Salve Rainha ...
 
Por falar nisso, eu juro que eu fiz a primeira comunhão e aprendi a rezar quase todas as orações, exceto o finalzinho da Salve Rainha, aquele que se segue ao “Eia pois”.
 
Você que está se horrorizando, diz aí o que é “Eia, pois”! Não sabe, né? E sabe rezar a Salve Rainha todinha? Quer dizer que você decora as coisas sem saber o que está falando, é? Eu, não consigo! Fico encucada, me disperso... 
 
Vejamos no dicionário: Eia= interj. Serve para animar, incitar. Pois= conj. 1. À vista disso; portanto( depois do verbo). 2. Diante disso; nesse caso. 3. Visto que; porquanto (antes de verbo). 4. Mas; no entanto.
 
Entendeu? Entendeu mesmo? Agora me diz o que é “Eia pois” !!! Pa-ra-béns!!! Eu ainda acho que o Eia é esquisito e que o Pois era desnecessário, mas enfim... Perdão!! Perdão!!!
 
Já passei uns apertos danados em que eu tive que rezar todas as orações que sei (e as que não sei também), diversas vezes. Um delas foi às vésperas do dia 08 de junho de 2003, data maldita em que os cursos superiores seriam avaliados pelo MEC. 

Não deveria haver aflição alguma, se grande parte da clientela que ingressa nas faculdades não tivesse problemas sérios oriundos do Ensino Fundamental e Médio: ler, interpretar, analisar, sintetizar, categorizar, diferenciar, classificar, escrever... Então, o Ensino Superior tem de dar conta de duas coisas: ensinar os conteúdos específicos dos diferentes cursos, e, também, de tudo o que não foi ensinado ou aprendido nos níveis anteriores. É claro que isso por si só é angustiante.
 
À medida que se aproximava o fatídico dia, meu coração apertava: nossas meninas, ingressantes em 2000 seriam submetidas ao provão de Letras, uma ”bobagem”, um “examinho” com 10 questões discursivas enormes para serem resolvidas em 04 horas. Não duvidávamos do trabalho de nossa equipe, mas as alunas não poderiam estar tensas e nem nervosas (como eu). Precisávamos de Deus e de todos os santos. Confidenciei isso às professoras Kita e Zilda Fantin.
 
Eis que Kita nos contou sobre sua fé nas treze almas benditas e convidou-nos para rezarmos um terço no cemitério do centro de Linhares. Contei-lhe sobre minha dificuldade com a Salve Rainha, mas combinamos que além de terços e velas, levaríamos um livrinho de orações para eu “colar” o pedaço que eu (ainda) não sei. Combinamos tudo para a véspera, às 16 horas.
 
Na data e horário certos, ao sairmos de casa, a mãe da Kita nos avisou de que o “campo sagrado” fechava às 17horas. Lá chegando, fomos direto para o cruzeiro, onde um vento forte impedia que as velas ficassem acesas. Zilda, porém, encarregou-se de “pajeá-las”, enquanto Kita me passava a “cola” da Salve Rainha e em uníssono elevávamos nossas orações a Deus.
 
Na trigésima continha da Ave Maria, Kita errou. Na trigésima segunda, ela rezava certinho, quando eu me embaralhei e disse: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, Bendita é o fruto do vosso ventre, Jesus” . Ou seja, pulei o “bendita sois vós”. Nós três tivemos uma crise de riso e, a seguir, muito medo de que Deus pensasse que estávamos com sacanagem. Com muito custo conseguimos nos concentrar e terminar o terço, bem a tempo de encontrar a porteira quase nos trancando lá dentro.
 
No dia 08, ao término do provão, respiramos aliviadas quando as alunas nos disseram que não tinham ficado nervosas, que tinham se saído bem. O terço tinha funcionado.
 
O resultado do provão de Letras foi o melhor entre os cursos particulares do Espírito Santo: nota B!, o que muito nos orgulha até hoje.
 
Pelo sim ou pelo não, não quero mais pagar mico e vou dar um jeito de aprender o tal pedaço: Eia pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei e, depois deste desterro mostrai-nos Jesus, Bendito fruto do vosso ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.

Só que agora estou pensando nas palavras “volvei” e “desterro”. Será que a primeira tem a ver com o que meu pai ordenava a seus soldados: “Direita! Volver!, Esquerda! Volver! ????”

Brincadeirinha, gente!!