O MALAMEM

Quando menina, eu sabia de cor todas as letras das músicas da Ângela Maria, do Altemar Dutra, do Roberto Carlos, do Paulo Sérgio, do Antônio Marcos, do Belchior... Depois comecei a emburrecer de um jeito que hoje eu não sei nada do que cantam esses artistas da modernidade (e sabe que eu acho que também não estou perdendo nada?).
 
Acho que à medida que envelhecemos vamos pegando a doença do alemão, ou seja, a do Alzeimer, e começamos a não nos lembrar nem do que almoçamos ontem.
 
Às vezes o problema não é de memória e sim de “miolo de camarão”, como brincava comigo meu professor de matemática, Eldo Valneide Vichi, quando eu errava quase tudo em suas provas. Aliás, o pessoal formado em Letras costuma ter uma dificuldade do caramba para números. Aprender tabuada de cor foi um “Deus nos acuda!”, por isso dei um jeito de decorar a de 2, 3, 4, 5, 6 e 7, e depois o 8x8= 64 e o 9x9= 81. O restante a burra aqui, até hoje, tem de somar ou subtrair algo. Aliás, depois que inventaram calculadoras e elas podem ser compradas a R$3,00 cada uma, aí é que eu não vou esquentar minha cachola, mesmo!
 
Penso que meu problema também pode ocorrer, inversamente, com o pessoal que foi privilegiado com a inteligência lógico-matemática. Um amigo meu, por exemplo, que é um gênio em informática, até hoje não sabe rezar a Ave Maria e exatamente por isso eu o apelidei de “MALAMEM”.  Se você pensa que o termo é uma junção de gente chata (“mala”) com homens em Inglês ( “men), enganou-se!
 
O termo vem de uma piada contada por Tonho dos Couros sobre uma professora que resolveu perguntar a seus alunos sobre os seus medos. Como resposta, o primeiro menino disse temer o saci-pererê, o outro a mula sem cabeça, um terceiro o lobisomem, um quarto o curupira, muitos disseram que tinham medo das bruxas e outros tinham pavor dos vampiros. Um deles, talvez o Joãozinho, disse temer o MALAMEM. Perguntado sobre o que vinha a ser isso, ele disse não saber, mas imaginava que era um bicho horroroso, já que todos em sua casa não dormiam sem rezar e pedir: LIVRAI-NOS DO “MALAMEM”.
 
Pois é, meu amigo é igual a esse Joãzinho. Ultimamente, ele está fazendo curso para se casar e, obviamente, está tendo de rezar. Segundo sua noiva, meu amigo rezando a Ave Maria é um negócio quase inaudível, mas mais ou menos assim: “Ave Maria, cheia de Graça, seja feita a nossa vontade, assim na terra como no céu, desceu à mansão dos mortos, está sentada (será que é a Nossa Senhora, meu Deus?) à mão direita de Deus pai, mas livrai-nos do mal amém”.
 
Quando eu soube disso ri muito e fi-lo repetir a oração, até que eu fosse capaz de reproduzi-la nesta crônica para você. Na verdade, eu ri, mas não deveria, pois omiti que eu mesma ainda engasgo depois do “Eia Pois” da Salve Rainha, exatamente porque acho essa expressão muito engraçada.
 
Soube disso tudo, quando, aflitamente, ele me contou que precisava de um curso intensivo para aprender a rezar, pois estava escalado para fazer a oração em voz alta, na semana seguinte.
 
Já imaginou se meu amigo rezar como ele rezou para mim? Até Jesus vai se esconjurar!! Acho que os ministros contarão para o padre que, além de não casá-lo, ainda vai pedir para o próprio Joseph Alois Ratzinger (o papa) excomungá-lo.
 
Agora diz aí, para que serve tanto conhecimento de informática, se o cara não consegue se lembrar nem de que todas as orações podem ser encontradas no Google? Pensando bem, certamente o problema não é de pesquisa. Pode, simplesmente, ser a “doença do alemão” ou “miolice de camarão”, não é mesmo?