"Deus e o Diabo na Terra do Sol" - Berenice Hering

Glauber Rocha foi ousado. Como se atreveu aos desafios nos telões, até nos títulos em letras garrafais em nossos sertões citadinos de Padins Ciços, Anchietas, Nóbregas e nobilíssimas seitas, preceitos e preconizações?

Lembrei-me do Gláuber, mas não vi nenhum filme dele. Entretanto, conheci sua genitora em Salvador, em janeiro de 1995, num evento de new age, a onda do neo-paganismo e panteísmo que desceu sobre os montes ao advento do terceiro milênio. A mãe do Gláuber Rocha é evangélica, creio que da seita batista. Contou alguns causos da família. À época, seu filho mais velho e famoso já havia morrido, bem como a filha Anecy Rocha, que teve um fim terrível. Morreu no poço do elevador, num domingo à noitinha, ao regressar, após passeios com a família. A outra filha da Sra. Rocha, (não me lembro do nome dela agora), a caçula, já falecera antes das tragédias dos irmãos, ainda menina, vítima de meningite. E a mãe, a fortaleza que não se abatera com o Toque das Trombetas de Jericó e a pulverização das Muralhas, sentenciou, bíblica e apocalipticamente, para a platéia de ouvintes: o Senhor concedeu. O Senhor levou. Louvado seja o Senhor!

Vou saltar uma linha para reencontrar o caminho e reencetar a marcha até Canaan.

Voltei de Salvador, passando por VV antes de regressar a BH, onde morava. No dia seguinte, 13/01/95, amanheci com uma dor aguda no olho. Consultei meu primo, Carlos Heringer, que é oftalmo. Ele diagnosticou úlcera de córnea por vírus de hérpes. Perdi a visão no olho esquerdo. Isto há treze anos. Mas é outra estória, um divisor de águas em minha vida. Talvez conte, algum dia...

Dizem que no Velho Testamento não há referência ao Diabo. Até com maiúscula, pois é uma entidade muito citada atualmente pelos evangélicos. O Pastor realiza rituais de exorcismo. Leio a Bíblia quando preciso pesquisar e contrabalançar algum disparate que ouço por aí. Um pseudo-pastor daqui do ES cometeu adultério com a mulher de um "irmão de fé" da denominação. Ele afirmou que estava autorizado pelas Escrituras. Citou Livro, Capítulo e Versículo, até anotei à época e conferi, mas perdi a anotação. O entrevistador do noticiário de TV mostrou e leu o trecho onde estava escrito a "mulher adúltera", etc e tal. Gostaria de transcrever litteratim. E o "pastor", semiletrado e ultra cio-so não sabia do acento agudo e o substantivo virou um verbo: adultera, e ele se sentiu incentivado, de acordo com sua conveniência própria e pratic-ânsia. "O que adultera será perdoado".

Neste nosso cadinho efervescente de credos, crenças, crendices, fãs, fanáticos e faniquitos, tudo é conveniente quando vem a calhar com as preferências de cada qual. Aqui se dança conforme a música, o afrorregae, o axémusic, dancehall, até o forró do Senhor.

Este adendo merece um poste escrito, repleto de variadas legendas.

Antes era forrobodó. Um gringo, que compareceu a uma fuzarca e a um fuzuê, disse: (como o pai do Sarney que era o Sir Ney) "o forró é para todos". The for is all. Everybody! All one! For body = Forró, que perdeu o bodó. Essas miscelâneas são a cara do nosso povão que adora confusão e idolatra gringo, de qualquer etnia, etnografia e etnocentrismo.

Jean-Paul Sartre, o filósofo e escritor francês do Existencialismo afirmou: "O inferno são os outros". Eu creio que cada qual, de per se e per capita, fabrica e monta seu Hades particular. O paraíso está perdido mesmo e nossa divina comédia não e de Dante Alighieri. Mas algo assim balzaqueano e detraquê como nas comédias de Molière ou romances de Rabelais.

Nossos anjos e demônios nós os fabricamos. A matéria que prima na servidão humana é um acervo de vícios: o fingimento, a hipocrisia, o fanatismo, a falsa modéstia, a dissimulação, a soberba e outros mais. O diabo pode ser mais feio do que se pinta... VV. 16/06/08