Quem manda na cama?
Quem manda na cama?
A cama, como dizem algumas pessoas, o palco, cenário, ringue, tatame, em tese o local onde os amores se dão, onde os amantes desnudam-se, das vestes e pudores.
A cama.
A cama da minha abordagem vai um tanto além do móvel casual, a cama das minhas referências e indagações é o desenrolar do ato do amor em si. E muito mais que o ato aborda comportamentos, hábitos, convenções, costumes, ritos, e tudo que envolve e compõe a complexidade da sexualidade humana. Sexualidade dos primórdios, sexualidade abrangente e mais esclarecida dos dias atuais.
Ato de amor, ou como queiram fazer sexo ou fazer amor, transar ou ficar, a quem cabem as iniciativas?
Neste aspecto refiro-me ás relações heterossexuais, permeadas mesmo nos dias de hoje de tabus, indagações e dúvidas.
A mulher hoje está muito mais consciente e se apropria muito bem de suas possibilidades, navega com segurança por entre suas conquistas, quer profissionais, pessoais ou emocionais, conquistas que se fazem perceptíveis e palpáveis a cada dia. O homem que também atravessa mudanças, não é mais o único provedor do lar, homem que hoje já concebe divisão de tarefas, assumindo com tranqüilidade muitas vezes o antigo papel da mulher na família, cuidando efetivamente dos filhos, trocando, banhando, alimentando a cria, tudo fruto não só da evolução pessoal, mas da necessidade de adaptação e transformação por que passa a sociedade atual.
Mudamos todos, crescemos todos, mas na hora “H” ainda cabe ao homem conduzir, começar, preliminarizar? E a mulher, se deixa conduzir, levar, segue os sinais masculinos, como em uma dança?
È ainda um discutir, quando escrevo sobre este tema não é algo apenas da minha vontade, sou levada a isto por um sem fim de trocas, impressões, que recolho e absorvo no cotidiano das amigas, mulheres que de alguma forma convivo e que transmitem suas dúvidas, interrogações eu diria. Somada a estas tantas, há a minha impressão pessoal, minha inevitável experiência de mulher madura e sempre, sempre concluindo pelo eterno mudar, transformar, na busca do verdadeiro amadurecimento. Quer pessoal, emocional, sexual.
Muitos homens, propriamente a sua maioria ainda conduzem seus atos como faziam seus antepassados, tomando todas as iniciativas, neste caso não só a mulher é seu real objeto de amor, como eles querem e se sentem propriamente donos, diretores, comandantes da situação. Neste caso, mulheres passivas, mais contidas, como também foram nossas ancestrais, fazem com eles o par ideal. Mulheres que se deixam levar, que realmente se entregam aos desejos amorosos e sexuais dos seus pares, deixando que esse prazer prevaleça, o deles.
Em outro lado, contrapondo total tal parceria, existem mulheres que avançam, começam o jogo, ditam as regras, se posicionam no jogo do amor, e nestes casos, primordialmente colocam em primeiro lugar suas vontades, próprias realizações e desejos. Essa mulher já está em grande número em cena, especialmente no contexto das mulheres maduras, mais conscientes de seus quereres, mais seguras e por isso em dia com sua sexualidade. Este encontro tem sido polemizado, moderno ou não, mais evoluído ou não, no campo sexual é difícil livrar-se das convenções, e o homem ainda resiste a muitos avanços. Há relatos de alguns que perdem um tanto o foco da transa, quando a mulher mais ativa busca a condução do ato. Há alguns que até perdem literalmente o “tesão”, e a transa não continua, não daquela vez. É com se perdesse o “ponto”. Alguns por outro lado gostam e as mulheres sabem que eles gostam, mas fingem não gostar, outros curtem, aproveitam bem o fato de sentirem-se objeto de prazer, mas concluem por não estar mais seriamente com a mulher que chamam de “moderninha demais”.
Então questionamos quem manda afinal ou quem deve mandar?
Não preciso das cartas ou dos universitários, recorro à ajuda de minhas amigas maduras, do gênero feminino e dos amigos do gênero masculino também maduros, experientes e com suas idéias a respeito, então mesmo relutante, concluo que sexo é sim um jogo amoroso, e deve ser conduzido como tal, cada um seguindo suas intuições, instintos, desejos, inteligência na intenção de que há apenas uma diferença dos demais jogos: É um jogo que não admite um único vencedor. O jogo, é concluído com sucesso quando ambos terminam digamos a partida com a sensação concreta de realização das vontades e quereres de ambos.
A relação sexual não deve ser encarada como uma competição acirrada, onde cada um quer mostrar seu melhor desempenho, o ápice de suas performances, com nuances acentuados de egoísmo, unicidade. Esta performance, meio que aos olhos do artista,deve se compor de “Dois”, ser construída com os atos, ações de cada um, mas formando no final uma verdadeira composição. Aquilo que só com uma parte não se realizaria.
A cama não tem mestre. Deve ter um homem e uma mulher que buscam descobrem, aprendem, desvendam um a o outro, um com outro, as artimanhas e os segredos de cada um. Tem que ser uma troca, de revelações, segredos, intimidades, fantasias, desejos, tudo com a permissão e o querer de ambos.
Aconselho (risos) que para um homem muito interessante, mas francamente dominador, a mulher pode se deixar conduzir, e aos poucos e com todo seu talento ir mostrando que a brincadeira fica mais gostosa, sugerindo, pequenas ousadias sem que, contudo ele perca (ou pense) as rédias do jogo. Se for algo que se repetirá, vale então conversar, em prol das futuras transas que certamente virão. Há que descobrir é primordial para continuidade, cumplicidade e parceria. Nos casos em que ambos estão abertos, livres e querem avançar, e ambos se permitem e permitem um ao outro avançar, ai então é a coroação do êxito na vida sexual de um casal.
Então não há condutor nem conduzido, vencido ou vencedor. Mestre ou aluno. Há homens, mulheres, que embora ciosos de todas as suas evoluções e possibilidades, querem um sexo saudável, amplo, possível, ilimitado, prazeroso, que os façam realizados neste quesito, entendendo o quão importante e essencial é fazer amor, é trocar, partilhar, nas essências de cada termo ou palavra.