PURA EMOÇÃO!!!

Emoção, segundo o filósofo Alemão Kant, seria o rompimento do dique da continência. Excelente conceito Kantiano, principalmente, quando estamos diante de uma inusitada e inesperada situação, da qual não prevíamos, embora fosse previsível.

Pois bem, é inquestionável se há ser humano que ainda não tenha sentido o delicioso sabor da emoção. Seja no sorriso de uma criança, seja ao ganhar um beijo do papai ou da mamãe, seja ao rever a pessoa amada depois de longo tempo, enfim, são várias circunstâncias que, deliciosamente, a emoção se faz presente. No entanto, a emoção também pode ser avassaladora, perniciosa e totalmente nociva.

Não querendo nem pleiteando aguçar todas as possibilidades da emoção, haja vista sua riqueza inesgotável de conceitos, fico com a primeira abordagem, é dizer: emoção pela encantadora e romântica forma de nos apresentar os momentos que se tornam inesquecíveis.

E foi assim, que neste dia, ao participar de um Seminário sobre Direitos Humanos, quando uma representante de um movimento - Pastoral da Rua, da arquidiocese de Belo Horizonte - levou uma ex-moradora de rua para falar de sua própria experiência.

Preliminarmente, aquela ex-moradora de Rua começou a esboçar o sua experiência, criticando pontos sensíveis aos direitos humanos, quais sejam:

"Que no período que foi moradora de rua, nunca sentiu o que era direitos humanos, mas sim desumanos;

que não sabia o por quê do nome Restaurante Popular, uma vez que os moradores de rua, se não estiverem bem limpinhos não podem adentrar para fazer suas refeições a R$1,00, então não faz sentido o valor ali cobrado;

que sempre quando chegava a algum lugar para se banhar, lugar público, a fim de pegar um balde d´água, era impedida por guardas ou policiais;

que quando ficou grávida de seu filho, foi impedida de entrar no hospital público, haja vista que estava totalmente suja, inclusive, sofreu princípio de eclampse, isto é, a criança passou da hora de nascer e, por sorte, não faleceu, o que ocorre com muitas de suas ex-colegas;

que hoje sabe o que é dignidade, tem seu emprego, sua casa e também ajuda, da maneira como pode, os moradores de rua, citando um exemplo de um dia desses que fora levar um rapaz a um posto de saúde, quando lá chegaram, o guarda que estava na portaria disse-lhe: - a senhora não tem vergonha de andar com esse lixo? De imediato ela lhe respondeu que o lixo era a língua dele, que a sujeira daquele rapaz água lavaria, mas de sua língua não seria possível.

Enfim disse ainda muita coisa de sua experiência, ressaltando que já levou mais de 15 (quinze) facadas, mas que também utilizava-se de uma faca, uma vez que era seu meio de se defender contra muitos dos que diziam "amigos de rua", que aprendeu que é melhor andar só que com pseudo-companhias".

Novamente, querendo amparar em Kant, necessário se faz frisar uma de suas inúmeras eloquentes frases: "... as palavras comovem, mas os exemplos arrastam!"

Não teria outras palavras para dizer que a emoção sentida por mim, quando aquela ex-moradora de rua, finalizando sua palestra disse: "É necessário que levemos luz, onde haja trevas, e a luz é sem dúvidas, acreditar que o ser humano tem conserto!!!"

Clovis RF
Enviado por Clovis RF em 24/06/2008
Código do texto: T1049140
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