Festa de São João

Lembro que quando era menino, fui à primeira festa de São João, no colégio.

Foi também a primeira vez que dormi depois das nove horas da noite; os folguedos estavam animados. Meus pais tomavam conta de um pirralho que demonstrava futuro de moleque danado, sem ser desrespeitoso, o que aconteceu realmente.

A festa de São João... Tinha tudo, ao ar livre. Enfeitada com bandeirinhas, fogueira acesa, delegado tomando conta de tudo, padre para o casório, barraquinhas de pescaria, jogo de argolas. O quentão era só para os adultos, mas meu pai deixou eu provar o dele, um cheiro só, achei gostoso. E comidas, que fartura! Milho, aipim frito ou cozido, ao qual os festeiros adicionavam manteiga, amendoim e os doces mais diversos. Lembro bem do doce de abóbora e o de batata-doce. E a canjica? Com canela, tem gente que come duas vezes e ainda ataca o resto das iguarias.

Nas grandes cidades, tirando as escolas, não se vê mais a comemoração popular, de inteiro congraçamento. Ela sobrevive nas escolas, algumas igrejas e poucos clubes. Mas basta sair dez quilômetros fora do perímetro urbano, que aparecem fogueiras onde a batata é assada usando um espeto de pau.

Calça velha, botina surrada, camisa xadrez, chapéu de palha – quem tem isso hoje? – fazem parte da indumentária obrigatória. As moças com vestido de chita, compridos até os tornozelos, cara pintada de ruge, tranças e olhar folgado. Quantos namoros não começaram numa festa de São João?

Não vou a uma festa junina há muito tempo. Muito tempo mesmo. Juntava muita gente, agregava pessoas desconhecidas, fazia amizades. Uma tradição que não se perdeu, mas como acender uma fogueira num edifício de cidade grande? Os moradores mais chatos vão chamar a polícia, mesmo se a festa estiver sendo feita no salão próprio. Muita gente nem sabe que hoje se cultua o santo a quem Jesus entregou a Mãe, quando estava sendo torturado e morto na Cruz. Conto da carochinha para muitos, mas pode conferir nos Evangelhos. Está escrito bonitinho lá.

São valores que se perdem, enquanto surge a balada, o ecstasy, bem mais interessantes do que música da roça, sorrisos abertos, relacionamento, amor e alegria.

É pena. O azar é nosso. Mas como hoje não é dia de reclamações ou tristezas, já,já vou preparar uma cachaça com mel, pois rapadura não se encontra em qualquer supermercado.

Saúde, gente! Viva São João!

Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 24/06/2008
Reeditado em 24/06/2008
Código do texto: T1049006
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