Futebol, Política e Mulher: Teoria da Conspiração 2ª Parte
Depois de falarmos sobre a conspiração no futebol, vamos descontrair um pouco falando de conspiração na política. Sim, pois discutir se há conspiração na política é como chover no molhado. É tão óbvio que poderíamos até fazer o caminho inverso que seria tão conspiratório quanto. Ou seja, se disséssemos que há conspiração para políticas desonestas no país teria o mesmo peso que dizer que há conspiração para que haja honestidade na vida política brasileira. Já pensou? Afinal, não são poucos os casos que ouvimos de pessoas que entram “corretas” na vida política, mas depois de algum tempo convivendo com velhas, e novas, raposas, se tornam tão ou mais abertas a contribuições para suas provisões futuras.
Sou da região da Zona da Mata Mineira, e lembro-me quando era criança na década de 80, e meus pais com muito sacrifício tentando conciliar a dura vida de jornaleiros com a criação de três filhos, e procurando nos dar uma boa educação, conseguiram junto a um “honesto” representante do legislativo federal, duas bolsas (ou três, não me lembro bem, aí já é demais) para estudarmos em colégios particulares. Assinaram diversos papéis e acompanharam até a publicação da tal bolsa. A “verba” saiu (pra alguém), e nunca mais voltou. Foi meu primeiro contato direto com a corrupção endêmica e conspiratória.
Daí pra cá, pelo que se saiba, só piorou. O então presidente do Congresso, Sr. Ulisses Guimarães, que interrompeu sua biografia com o seu desaparecimento, antes que fosse atropelado pelo caminhão de denúncias que se seguiram, já dizia: “Vocês acham que o nível dos deputados está ruim? Pois vai piorar...” Até acredito que há pessoas que tentam trabalhar corretamente, mas, essas logo são massacradas pela máquina e pelo sistema que têm sua maneira própria de se auto-regular, como já é feito a centenas de anos.
Vejam o exemplo de minha cidade, Juiz de Fora. Aliás, tem sido muito noticiada ultimamente e grande motivo de vergonha para nossos habitantes. Nosso prefeito (Alberto Bejani, atual ex-prefeito e morador do Spa Nelson Hungria, presídio de segurança máxima) foi flagrado com mais de um milhão de reais em sua propriedade e posteriormente apareceram as imagens dele recebendo as propinas. Ora, os “boatos” das propinas já eram bem evidentes em seu primeiro mandado, lá em 1989, apoiado pelo exmo. Sr. Fernando Collor de Mello. Em sua última eleição, foi apoiado pelo também excelentíssimo Roberto Jefferson. E teve gente que votou nesse cara! Tá certo, a margem foi apertada e a diferença mínima em relação ao Dep. Custódio Mattos, mas, as promessas de campanha à época eram ridículas e muita gente, pelo jeito, acreditou. Depois que ele assumiu seu posto na Prefeitura, o que se viu foi uma avalanche conspiratória até cominar com a bendita ação da Polícia Federal que nos livrou deste pulha. Agora eu pergunto: onde estavam os vereadores que deveriam fiscalizar a ação deste pelintra na Prefeitura? Até agora não se falou neles, exceto os vereadores que estão, através de uma tardia CPI, levantando as ações do indecente no governo municipal. Vale lembrar que muitos vereadores cederam à tentação e passaram ao partido do prefeito assim que ele assumiu, e se acham que foi de graça, esperem para ver duendes também.
O objetivo desta conspiração é mais óbvio que no caso do futebol: perpetuação no poder e manutenção e subsistência ad eternum. Basta lembrar que um nobre deputado pode se aposentar recebendo todo o seu salário com apenas dois mandatos, ou 8 anos de “serviço”. Depois dessa, é preciso falar mais alguma?
Outra coisa intrigante e que parece impossível de se quebrar é o fato que os políticos são regulados por... eles mesmos! Teoricamente em nosso sistema de poderes, admitiríamos que temos três poderes (executivo, legislativo e judiciário) que são independentes entre si e que deveriam zelar pelo funcionamento e fiscalização um do outro. Ou seja, o executivo cuida para que seja cumprida a lei e executa-as conforme as necessidades e disponibilidades a fim de atender ao povo. O legislativo cuida de fazer as leis de acordo com as necessidades do povo e fiscaliza o executivo e o judiciário. O judiciário por sua vez, cuida para que o executivo não cometa excessos e para que o legislativo não faça leis absurdas (que vão de encontro a Lei Magna), guardando que Justiça não é a mesma coisa que Lei. Mas, o que acontece hoje no Brasil? Os poderes que deveriam ser independentes entre si, se misturam e não cumprem o seu papel originário. O executivo legisla através das medidas provisórias e decretos e, lógico, através da execução de obras convenientes aos seus aliados políticos do congresso. O legislativo se cala diante da pressão econômica exercita pelo executivo e se preocupa mais em votar leis em que possam se favorecer. O judiciário coitado tem que se equilibrar entre a infinidade de leis produzida por um falho legislativo; tem que julgar milhares (ou quem sabe já são milhões) de processos cujo réu é o próprio Estado, entupindo os tribunais em todas as instâncias; tem que se manter com verba e pessoal limitados visto que seu lobby e sua função não são muito bem vistos pelos que detêm a caneta; e o mais esdrúxulo: O Supremo, que é a instância maior do poder judiciário em nosso país, é escolhido pelo... executivo! Cabe uma ressalva, que em decisões recentes este mesmo supremo tem nos brindado com gratas surpresas de isonomia e sabedoria, demonstrando que apesar do incompreensível ditado da Lei, o judiciário ainda é o menos conspiratório do meio político.
Para encerrar a questão política e irmos para a derradeira questão das conspirações, esclareço que muito ainda tem para se dizer e argumentar sobre a questão. O desabafo é apenas mais uma forma de expressão. Termino lembrando do clássico de Thoreau, A Desobediência Civil, que diz que o melhor governo é aquele que menos governa, que menos se intromete na vida de seus governados.