Ela
Acendi um cigarro, deixei o quarto escuro, dentro dele apenas a brasa queimando e a luz das estrelas acompanhadas da lua cheia que me trazia uma lembrança tão doce quanto o cheiro dela que estava em minha roupa.
Já era junho, lá fora um frio que congelava até a alma, e aqui dentro tudo quente, tudo aquecido desde que ela chegou sorrindo com os olhos, os mesmos olhos dos quais eu podia enxergar sua alma, acompanhada com o medo de estar ao meu lado, medo esse que eu também sentia.
Tantos mistérios envolvidos em uma só relação, olhar pra ela e ver que ela possuía a felicidade que eu nunca tive, e que nunca chegaria a ter se não fosse minha alma cruzar com a dela em um fevereiro qualquer, em um lugar menos propicio pra se encontrar alguém, várias pessoas em volta, mas eu podia vê-la no meio da multidão, destacando-se de todas as formas possíveis, foi incrível, mas naquele momento eu esqueci o passado e o presente, eu só criava aqui dentro um futuro, que teria que ser com ELA.
Futuro inclusive tem sido uma palavra que não me sai da cabeça, gosto de imaginar nossa casa, nossos quadros, nossos livros, e nossos discos, tudo junto em um só ambiente meu e dela, nosso cachorro correndo pela casa, nossos filhos brincando, dormir e acordar com ela me olhando e dizendo bom dia, os domingos preguiçosos e sem graça que se tornariam mágicos ao lado dela, mágico como tudo até agora, mágico como cada beijo, mágico como cada olhar, como cada vez que minha mão entrelaça com a dela, mágico como a cada suspiro e cada “eu amo você.”.
A vida anda doce, como eu sempre sonhei, como ela me faz sonhar, sonhar de olhos abertos, sonhar no ônibus, sonhar ouvindo uma música, sonhar durante o beijo e não querer nunca mais voltar para a realidade.Uma vontade doida de parar o tempo, de gritar, dançar na chuva, erguer as mãos pro céu e agradecer.
Hora de fechar as janelas, e adormecer, tendo a certeza que a partir do momento em que ela estiver aqui dentro, o mundo lá fora não valerá mais nada.