UAI SÔ, QUI POBLEMÃO!
Após mais de 500 anos de descoberto pelos portugueses, o Brasil - que herdou predominante e forçosamente a língua destes colonizadores europeus – não obstante ter criado por aqui sotaques e linguajares pitorescos, ainda não se desvencilhou dos grilhões do idioma originário que o mantém aprisionado, apesar do distanciamento, de fato, da língua máter.
A quando da descoberta do território brasileiro pelos portugueses e, também, logo em seguida, a exploração de matérias-primas (ouro, madeira, minérios, etc) por outros desbravadores da europa ocidental, povos nativos já o habitavam em toda a sua extensão. Tupis, Guaranis, Tupinambás, Ianomâmis, Carajás, Canelas entre outros, eram os “donos” destas paragens e também já se comunicavam perfeitamente entre si, com termos, sotaques e formação linguística coloquial e de forma verbalizada.
De outra parte, vieram, escravizados, os negros das tribos africanas, que também trouxeram sua cultura, língua e termos característicos de seu povo e suas tradições.
Mais tarde, já com intuito colonizador, inicialmente os portugueses, depois os franceses, os holandeses, os italianos, os espanhóis, entre outros mais, fixaram-se nesta parte do globo, trazendo, inevitavelmente, para compor o mosaico da nossa cultura e língua, o seu modo de vida.
Atualmente, a nossa herança linguística é por demais variada, fruto da incrível miscigenação que por aqui se instalou. O negro africano, o branco europeu, o amarelo oriental e o silvícola nativo americano, sem dúvida alguma transformaram o idioma português da terra brasilis em uma verdadeira “salada” de sotaques e neologismos, modificando, em muito, o idioma original que, aos poucos perdeu e continua perdendo a sua essência primitiva.
Entretanto, mesmo após tanto tempo, já um país politicamente independente e com um imenso distanciamento do idioma originário português, o Brasil, através das autoridades gramaticais do país, ainda não tomou consciência de que precisamos urgentemente promover uma rápida e estrutural modificação no nosso dicionário e na gramática nacional. É evidente que, com isso, promoveríamos, no mínimo, um avanço fenomenal especialmente na educação.
É uníssono o grito pelos brasis afora de que a educação é que transforma o homem ignorante, leigo e excluído em cidadão digno e conhecedor dos seus direitos constitucionalmente garantidos.
Ora, uma reforma ortográfica e gramatical profunda e arrojada na nossa língua, transformando-a em algo simplificado e acessível a todos, sem sombra de dúvida, iria estimular o acesso a escolas e cursos de alfabetização, bem como facilitar o processo de ensino-aprendizagem de leitura tão brutalmente debatido.
Figuras gramaticas como a “crase” deveriam ser abolidas por completo, uma vez que a sua existência ou não em uma frase não altera em nada a essência daquilo que se quis dizer; regras de escrita deveriam se basear apenas nos fonemas ou sons que produzem, tais como: cachaça ou caxaça ou caxassa, afinal se alguém lhe mandar um bilhete com os seguintes dizeres: “mande-me uma garrafa de caxassa”, você entenderia ou não? Claro que sim. Palavras como “piscina” poderia ser “picina” ou ainda “pissina”. Que mal há nisso? Aliás, por falar em MAL, não poderia ser “MAU”? É, pode sim.
Estamos às portas do futuro e presos a um passado cuja existência não se justifica mais. Gramáticos, professores, membros da ABL e até pessoas do povo não admitem a variação e a mudança naturais e inevitáveis do vernáculo brasileiro, tornando este muito mais complexo, em detrimento da maioria da população menos letrada, causando, principalmente, um “emburrecimento funcional”.
Machado de Assis, certa vez, ao comentar, indignado, a resistência dos “homens cultos” às mudanças na língua portuguesa, retrucou que, negar essa mudança é o mesmo que recusar-se a admitir que o transporte do idioma português para o Brasil - devido a variantes alhures citadas - não lhe implicou mudanças significativas em sua estrutura.
Não há porquê ficar preso a um passado imbecil e retrógrado. O passado é importante enquanto nos é lucrativo e essencial para a sobrevivência humana. Cultuar uma gramática e uma ortografia “pesada” e cheia de pormenores é algo cansativo e contraproducente. Aliás, já há muito ecoava em Minas que “o tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”. Se não há homens vivos, livres e repletos de cidadania, não há país, não há cultura e não há língua, mas apenas meia dúzia de “senhores cultos” brincando de intelectuais, enquanto o povo pena e esperneia para conhecer o vernáculo.