OU ESTAMOS VIVOS E ESTAMOS SONHANDO, OU ESTAMOS MORTOS E NÃO SABEMOS

Ou estamos vivos e estamos sonhando,

ou estamos mortos e não sabemos!

Era uma vez, numa cidade muito distante daqui (Araque), “nasceu” João Bobo. Era uma criança pobre, horrível e malcuidada. Apesar de tudo tinha o carinho e a atenção de todos, que lhe dispensavam amor, compreensão, coleguismo e até lhe creditavam lampejos de inteligência e liderança. Destacava-se nos grupos - especialmente nas escolas - pela sua capacidade de articulação e verbalização, afora as constantes participações em discussões e defesa dos fracos e oprimidos.

João Bobo cresceu, tornou-se adulto, ficou rico e continuou a sua incansável luta na busca de um ideal: quero ser o rei de “Araque”. Guardou reservas em dinheiro, articulou estratégias com correligionários, fez campanhas memoráveis contra os “paraquedistas” que lá administravam a cidade há anos, enfim, subiu nos palanques por toda a cidade prometendo a redenção aos eleitores. O povo acreditou piamente.

Ademais, Araque era uma cidade próspera e ordeira, construída por braços fortes e corajosos que lá chegaram no intuito de (re) construir uma nova vida, instigado pela busca do progresso, inicialmente açoitado pelo ouro, seguindo-se do ciclo da madeira e depois do gado bovino, mas que já há tempos dava sinais de cansaço e de decadência, “movida pelo descaso que lhe haviam administrado os governos anteriores”. Apesar de tudo isso, o povo ainda tinha esperança de mudança.

O rei venceu as eleições. Fez-se a vontade do povo. A democracia venceu o autoritarismo pela sua forma mais pura: o sufrágio universal!

Hoje, depois de muito tempo de governo, o povo “caiu na real”: nada do que foi dito e prometido está sendo feito. Araque continua em decadência. As escolas sem merenda para as crianças sem-lar; os hospitais e postos de saúde, não têm a mínima condição de atendimentos, e os doentes agonizam nos corredores ou em direção às cidades vizinhas mendigando um pronto-socorro; ruas e avenidas já não permitem o tráfego sequer de carroças de tantos buracos e poças de lama; pessoas que ousam pronunciar o mais singelo comentário são perseguidas das mais variadas formas, inclusive com ameaças verbais e perda do emprego. Instaurou-se o caos, mas o povo continua ordeiro, trabalhador, sem dar um “piu”...

Araque é bem habitada. Tem cidadãos memoráveis e esclarecidos. Doutores de toda espécie, médicos, engenheiros, jornalistas, advogados, pedagogos, dentistas, etc., que se acotovelam pelos bares, clubes, ruas e avenidas constantemente; têm também pessoas menos escoladas (sindicalistas, feirantes, garis, etc), mas igualmente esclarecidas. Mas ninguém faz nada; ninguém diz nada; ninguém reclama de nada; ninguém se indigna de nada...

Será que estão vivos e isto tudo não passa de um pesadelo?

Será que estão mortos e não se deram conta disso?

Respondo: nem um, nem outro. É a dura realidade de Araque!

...e o João, de bobo, só tem a cara e o andar!

REMI AMORIM
Enviado por REMI AMORIM em 23/06/2008
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