Meus (eternos) tempos de criança
O míssel passa raspando pela fuselagem do alvo inimigo.
- Na próxima não errarei – diz o autor do disparo.
- Prepare-se para ser destruído – alerta o outro robô.
Rapidamente o robô se transforma em um jipe, e parte em alta velocidade contra o lançador de mísseis.
Calma, isso não é nenhuma cena de filme de ficção científica. É apenas meu cérebro relembrando os tempos em que eu e meus amigos brincávamos de batalhas entre robozinhos.
Era muito legal. Lembro-me de uma festa de agosto*, em que um amigo meu, com ajuda de um “mãetrocínio”, comprou um robô que podia se transformar em jipe. Já eu, tive de choramingar até o dia 5 de agosto (lembrando que a festa começa lá pelo dia 1º e vai oficialmente até o dia 6, se estendendo até o dia 7), até que meu pai (portanto um famoso “paitrocínio”) me comprasse um robozinho horrível, mas que lançava mísseis pelas mãos.
Brincávamos muito. Não só de robozinhos, mas também de carrinho, pique esconde, e até amarelinha (opa, isso não era pra ser revelado...). Na verdade, a festa de agosto é um verdadeiro martírio para os pais. O que tem de brinquedo não é brincadeira, com o
perdão do trocadilho. É claro que hoje em dia existem opções bem
diferentes. Na minha época de criança não havia tantos brinquedos eletrônicos. Sorte dos meus pais.
Entre voltas pelas barracas da festa de agosto e brincadeiras
com robozinhos, cresci vendo a vida se desenhar de forma bem natural. Brinquei muito, isso não posso negar. Tive uma infância bem movimentada, vários amigos e um número razoável de brinquedos.
De certa forma, nunca me desliguei totalmente dos tempos de criança. Ainda leio gibis de super-heróis (sou fã do Homen-de-ferro. Talvez herança dos robozinhos...), assisto desenho animado e morro de vontade de comprar um tabuleiro de Banco Imobiliário e um de War. Mas, o que tenho feito muito mesmo é escrever sobre meu passado. Não sei direito por que. Talvez seja uma forma de matar saudades de um tempo onde não havia tanta coisa louca acontecendo. Ou talvez seja só para ter o que escrever mesmo.
E, assim, vou tocando o barco da vida. Só tenho uma curiosidade. Não sei o que aconteceu com meu robozinho lançador de mísseis. Depois da batalha narrada no início do texto ele sumiu. Talvez minha mãe tenha jogado ele no lixo sem querer. Ou, quem sabe, cansado de só enfrentar o robô-jipe, ele tenha resolvido buscar outros desafios.
Que doideira. Como um robô de brinquedo ia sair por ai sozinho, não é mesmo? Acho que ando lendo muito Homem-de-ferro. Onde será que guardei meus gibis do Batman?
* Festa realizada todos os anos em Siqueira Campos, entre os dias 2 e 6 de agosto, em homenagem ao Senhor Bom Jesus da Cana Verde, padroeiro da cidade