Resenha

O que torna difícil um livro?

Por Antonio Jota

O artigo comenta uma ferramenta do site Amazon que se dispõe a medir a dificuldade de um livro. O autor considera estapafúrdia a idéia, desqualifica os métodos através dos quais se chegou à conclusão de que os “livros serão considerados tanto mais difíceis quanto maiores forem suas frases e suas palavras”. (BOSCO, 2008, p. 1). Mas o que torna difícil a compreensão de um texto?

Apoiando no discurso de Foucault, o autor mergulha na questão sobre o que é literatura. Argumenta que esta perdeu seu fundamento, perdeu sua postura de palavra da justiça, da verdade absoluta; conseqüentemente, sua função social. Entretanto, esta mesma literatura, livre de tamanha responsabilidade, renasceu para tornar-se ampla e soberana tal qual a conhecemos hoje: questionadora, inovadora e parte de si mesma para apoiar movimentos vanguardistas; como uma fênix, destrói-se para ressurgir mais bela, complacente, diferenciada, transformada – joga-se plenamente à intertextualidade, aos paradoxos e renasce por tessitura ou ruptura.

Há-se que citar textualmente o caso do surrealismo cuja idéia é aproximar o oxímoro, ou seja, a tentativa de combinar palavras opostas que aparentemente se excluem, mas que no contexto se reforçam e formam imagens impressionantes como esta frase de Breton: “na floresta incendiada os leões eram frescos”.

A imagem é uma criação pura do espírito. Ela não pode nascer de uma comparação de duas realidades mais ou menos distantes. Quanto mais as relações das duas realidades aproximadas forem longínquas e corretas, mais a imagem será forte – mais poder emotivo e realidade poética ela terá. (REVERDY, Pierre; apud Bosco, 2008).

É, portanto, diferente da dialética identidade/diferença que apontam para a economia de linguagem através da metáfora/metonímia. O processo procura desqualificar, anular, a identidade ao aprofundar a diferença! A aparente erosão de sentido dificulta a compreensão da mensagem para os não-iniciados nesta linguagem. O que não significa a ausência de sentido, coerência e coesão. Requer tais obras, portanto, mais esforço do leitor para estabelecer sentido; às obras surreais configuram como bom exemplo.

“Junto à elisão do sentido e a erosão do referente... a exploração da materialidade da linguagem”. (BOSCO, 2008, p. 2). Conta-se que Mallarmé disse a um amigo que poesia se faz com palavras e não com idéias. Eis a sonhada convergência de sentidos entre os isomórficos, ou seja, forma e sentido aproximando (ainda que por ruptura) os eixos sintagmáticos e paradigmáticos.

E assim cai por terra o sesquipedaismo enquanto elemento para medir a qualidade, complexidade da literatura ou a intenção do autor quanto à erosão de sentido ou elisão de objetos.

Não obstante, a educação para compreender o significado e a imperícia na percepção deste, aumentará sobremaneira o abismo entre a maioria do publico e à literatura moderna ou vanguardista, cujas formas são se mostram à primeira vista.

Antonio Pinto Nogueira Acioly
Enviado por Antonio Pinto Nogueira Acioly em 23/06/2008
Código do texto: T1047277
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