A MULA E O BÁSICO

Comecei o caminho com uma mochila do tamanho do Everest. Fui pouco a pouco me despindo, foi-se o peso, foi-se o desnecessário e enfim, quando não havia mais vestes, percebi que da vida realmente precisamos do básico, tudo mais é puro resto.

Nem sempre foi assim, quando arrumei a mochila, quis carregar o mundo. Tudo me pareceu imprencidível, queria levar tudo. Feito mula ignorei os conselhos do guia Duba, que dizia: menino não carregue o mundo nas costas, ou cai o mundo ou cai as costas.

Quando as costas começaram a cair, percebi que precisava deixar para trás muita coisa. O que jogaria fora primeiro, era a dúvida. E se precisasse disso ou necessitasse daquilo, era tanta coisa: Capa para chuva, remédio para dor de estomâgo, tênis extra para noites frias, sete camisetas para os dias quentes, uvas passas para quando precisasse de açúcar, tinha até tabletes para prisão de ventre.

Joguei tudo fora, fiquei apenas com a escova e com a pasta de dente, e algumas roupas, afinal, vou preso, se não estiver decente. Depois dessa limpeza toda, agora consigo caminhar.

Com pouco peso, sinto meus pés em ligação com o barro vermelho. Por vezes esse chão fica quente, outras vezes o calor vem sútil e só ouço o zumbido: laaammmm pra cá, laaaammm pracolá e o calor sobe pelas plantas dos pés, toma conta das pernas, sobe pela espinha, é uma coisa louca; mas a terra é minha companheira, quando dá essa

canseira, paro e penso na Aline, minha companheira oculta e peço que ela aguarde o tempo certo e só acorde quando eu passar pelas outras seis estradas e tiver descoberto que é com equilíbrio que vou vencer e despertar.

Frank Oliveira

A seis estradas de chegar em casa

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