O JUMENTO E A CARGA D'ÁGUA
Sertão nordestino, tempo de seca, onde os açudes existentes secavam ou ficavam com pouca água. Isso era motivo que levava os habitantes da nossa Comunidade a recorrer aos pequenos riachos, cavando, em suas areias, cacimbões ou pequenas cacimbas. Usavam os instrumentos que possuíam como: a pá, a enxada, a alavanca e a picareta. Com muito trabalho e dificuldades iam cavando palmo a palmo até dar nos veios d’água. Muitas vezes eram acometidos pelo medo de não encontrar o precioso líquido, e qual não era a alegria de todos, quando viam jorrar da areia o jato d”água.
Garantida a água, utilizava-se como transporte da cacimba até a casa, o jumento. Animal famoso pela sua grande resistência. Para isso, era colocado em seu dorso cangalha com cabeçotes, onde eram atrelados os barris. Fazendo assim do jumento o veículo-tanque daqueles sertões.
E não poderia deixar de contar a minha aventura com minha mana Iracy, onde várias vezes fomos buscar água na cacimba. Íamos alegres, cantando, conversando, mas qual não era a nossa angústia, quando acontecia do jumento deitar com a carga d’água ou empacar sem querer andar. Nesta hora não sabíamos o que fazer a não ser chorar. Nossa esperança era aguardar a passagem de alguém maior do que nós, para ajudar a levantar o nosso jumentinho tão útil, mas tão teimoso.
Nos dias atuais com a eletrificação rural, já conseguem bombear a água para as caixas d’água, tanto dos açudes que ficam perto das casas, como das cisternas que servem para acumular a água das chuvas, diminuindo assim as dificuldades enfrentadas pela comunidade.
O jumento continua sendo um preciosismo animal de carga.
Neneca Barbosa
João Pessoa, 23/08/07