Minha aula de hoje

Achei muita graça nessa que me aconteceu num sábado de Junho, lembro que era início do Inverno (só para nos situarmos no tempo). Depois de tanto tempo sem aparecer, pediram-me que desse aulas sobre cidadania. Tudo bem, topei. Afinal, por mais que não esteja exercendo a profissão de professor, posso muito bem tocar nas almas dos outros com sábias palavras, que nem são tão sábias assim.

Mas falando sobre a bendita aula, comecei bem de leve (se é que isso existe para mim), falei quem eu era, nome, idade e o que estudei (Raphael, 22 anos, fiz Letras e blá, blá, blá). Preconceito era o tema que eu escolhi, falei dos clichês comuns com esse tema, sempre falam ou de negros, ou de mulheres, ou dos “feios”... dessa gente que todo mundo já conhece, já prejudicou com palavras, mesmo que inconscientemente.

Eu tinha pouco mais de uma hora para falar de tanta coisa, e olha que eu falo, e muito, e muito rápido também. Sei que dados trinta minutos de conversação, pois é lógico que eu havia colocado os alunos para exercitarem o português falado (embora eu tenha sofrido de uma crise anglicana enquanto palestrava), necessitávamos de água; cinco minutos de um intervalo curto foi dado, mas só usamos dois. Voltei e falei, falei, e quando percebi tinha mudado de assunto.

Agora era interessante mostrá-los como o preconceito existia inconsciente neles, pedi que se olhassem e dissessem o que achavam de diferente um do outro, o que não gostavam um do outro, e por último pedi que se elogiassem, falassem sobre o que admiravam um no outro, a que o outro o inspirava... Deu certo... eles gostaram, fui herói por um dia.

Após esse relato, você deve estar se perguntando: O quê esse maluco quer com esse texto? É simples, há poucos dias atrás eu era o meu pior inimigo, ou seja, estava preconceituando a mim mesmo, negava o meu eu para que pudesse ser percebido pelos outros. Mas dane-se esse moralismo que nos é imposto, vamos ser nós! Dar piruetas na lua, ou no mar, ou sei lá onde mais...

Essa minha aula serviu mais para mim do que qualquer um deles possa dizer que serviu para eles (no caso “eles”refere-se aos alunos). Percebi que o meu mal era eu, era a minha insatisfação, minha mania de esconder quem sou, meu medo de ser original, de ter essa individualidade que cada um tem...

Vai durar um tempo para eu perder isso por completo, afinal, manias antigas são mais difíceis de serem perdidas do que coisas recém-adquiridas.

Raphael Semog Ribeiro
Enviado por Raphael Semog Ribeiro em 22/06/2008
Código do texto: T1045574
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