GLORIA


Segundo um dicionário porqueirinha que vive à minha volta, GLÓRIA é um substantivo feminino e tem 04 acepções: 1. fama, celebridade( adquirida por feitos ou virtudes notáveis). 2. pessoa célebre. 3. honra, orgulho. 4. homenagem. Esse nome volta e meia me persegue, mas quase nunca em seus significados dicionarizados.

Ao mudar-me para o ES, meu pai decidiu que moraríamos no bairro da Glória, um lugar que me legou boas e más recordações. No Grupo Escolar “Naydes Brandão” aprendi as primeiras letras (sentindo um aroma delicioso dos chocolates Garoto, que as “vacas magras” só me permitiam cheirar) e na igreja ao seu lado, eu fiz a primeira comunhão (com veuzinho branco na cabeça e tudo).

Eis que hoje, ao folhear a revista Veja (Errou! Não foi no banheiro!), edição 1962, de 28/06/2006, encontro na página 78, uma matéria sobre outra Gloria (sem acento mesmo), a Vanderbilt. Uma “pobrezinha”, dona de uma marca de jeans administrada pelo Grupo Jones Apparel, revendida em lojas que não ficam no pólo de confecções capixaba, pois são muito “meigas”: Bealls, Bon-ton, Boscov’s, Elder Beerman, Fred Meyer, Gottschalks, Robinsons May, Zellers, Peebles, Stage Stores…, onde eu nunca estive, mas que, em compensação, muita gente “bacana” também não.

Uma pesquisinha básica no Google me informa que seu nome completo é Gloria Laura Vanderbilt, descendente de um clã de magnatas, atriz e socialite famosíssima. Ela se tornou herdeira de US$ 4 milhões de dólares, aos 2 anos de idade, após a morte de seu pai, Reginald Claypoolee Vanderbilt. A danada se casou 04 vezes, está viúva desde 1978 e teve 04 filhos, 02 do segundo casamento e 02 do último. Um deles, Anderson Cooper, é jornalista âncora da CNN e faz muito sucesso desde a época do furacão Katrina; já o seu irmão, Carter Cooper, em 1988, achou que era o Batman e resolveu pular do 14º andar do prédio onde morava.

Essa Gloria não me chamou a atenção por ser famosa, nem por ser podre de rica, nem por ter “papado” 04 maridos e nem pela tragédia ocorrida com seu filho. Procure a revista, meu leitor, observe a foto dela abraçada ao filho Anderson, que mais parece seu irmão mais velho. Olhe o rosto, o pescoço, as mãos, os braços, os pedaços de canelas e os pezinhos. É bem verdade que dá para perceber em que sentido o cirurgião plástico costurou as maçãs do rosto, deixando-lhe um meio sorriso de esgar. O fato é que a sujeita nasceu em 20 de fevereiro de 1924 (não precisa fazer contas, são 82 anos), poderia ser minha mãe, mas tem cara e corpo que lhe conferem 40 anos, no máximo.

É claro que a foto pode ter sido tratada com o photoshop, é lógico que pode ser que ela ande curvada, é imaginável que ela ponha os “dentes” para dormir num copo, é possível que ela durma dentro de um vidrinho de formol com botox, mas o mais provável é que ela tenha mandado implantar um trançado de fios de ouro sob a epiderme, de forma a sustentar o corpo todo.

Por falar em ouro, de uns tempos para cá, eu que nunca dei muito valor à minha aparência, estou um nojo de tanto passar DMAE e Renew (dizem que ele contém esse pó precioso, cobre, magnésio e extrato de caviar(?) em sua fórmula. Será que serve para passar no pão também?). Estou gastando grana e tempo preciosos com cremes para a área dos olhos, rosto, pescoço, mãos... e o pior, para ficar com a cara lambrecada e aparência de kabuki ( aquela cara branca de atores japoneses). Não mudei nadinha ainda! Talvez tudo o que eu precise para continuar me sentindo bem, seja eu continuar me levando muito pouco a sério, e gostando de um bicho chamado gente.

Bem, se eu não invejo a Gloria Vanderbilt por ser “jovem” e multimilionária (eu jamais iria querer ficar órfã aos 2 anos, ou perder o parceiro do Robin); qual o sentido, então, do título deste texto? Ele está em você, meu leitor, que me conhecendo ou não, me prestigia com sua leitura e, sem perceber, conduz-me ao estado da terceira acepção da palavra em questão.

Tanta honra faz com que eu procure retribuir, muitas vezes fornecendo cultura inútil, outras mentindo, outras tantas brincando, com o firme propósito de diverti-lo ou levá-lo a pensar. Afinal, se a glória é minha, eu entendo ser meu dever procurar fazer com que seu sorriso ilumine os domingos. ( Puxei bonito, hem?!).