CARO CORUJÃO
Olha como funciona o sentido das palavras! A leitura do título acima deve tê-lo induzido, meu caro leitor, a pensar em “caro” no sentido de “dispendioso” ou “caro” na acepção de “querido”. “Corujão” pode ser uma grande ave noturna, do sexo masculino, com grandes olhos atentos, ou pode ser um pai super protetor, não é mesmo?
Bem, a razão do título desse texto tem pouco em comum com essas duas acepções.
Congresso Internacional de Língua Portuguesa na PUC-SP... Eu e Zilda Fantin, iríamos perder? Nem mortas, filho! A Unilinhares nos apoiou financeiramente, tínhamos um apartamento chiquérrimo, à nossa disposição, pertinho do evento...Bom demais!
Decidimos que “pobre é o capeta”, que ônibus faz a gente ter que engessar as nádegas depois, e que avião é quase tudo igual mesmo. Os sorrisos, as coreografias das aeromoças são todas iguais (aquelas de “em caso de acidentes, máscaras de oxigênio cairão automaticamente... e há duas portas de emergências nas laterais” são ótimas!), e os “Bom-dia!”, “Boa-tarde!” ou “Boa-noite!” só variam de sotaque. Então, era melhor poupar e comprar todos os dicionários e livros que pudéssemos.
Se fôssemos um dia antes, poderíamos passar na Ladeira Porto Geral, na rua 25 de Março, na Zé Paulino... e comprar, bem baratamente, um bocado daquelas coisas bonitas pelas quais todos pagamos os olhos da cara por aqui. Isso mesmo! Iríamos pela BRA, uma empresa aérea que tinha um ótimo preço ( R$ 345,00, ida e volta), e pronto!
O vôo que iria sair às 19 horas (por ocasião da compra dos bilhetes), saiu às 23 horas (a criatividade brasileira apelidou os vôos noturnos de “corujão”), chegou na estação Barra Funda às 2 da madrugada, os pestes dos motoristas de táxi cobraram R$5,00 por cada mala, mas...o que não se faz para ir num congresso internacional?
Tô reclamando de nada não, viu povo da BRA? Se bem que ainda sinto os gostos insossos daquele sanduichinho sem graça e daquele bolinho solado, embora eles sejam melhores do que aquele pinguinho de amendoins da GOL.
Congresso? Beleza! Evanildo Bechara, Luiz Fiorin, Ingedore V. Koch, Antônio Suárez Abreu (são “PhDeuses” da área de Letras! ) estavam todos lá. Aprendemos muito, compramos muitos livros... Zilda muito mais do que eu, pois é fanática por gramáticas. A cada intervalo, ela voltava com uns 06 volumes. Achou que era pouco, resolveu trazer o equivalente a 02 caixas de paradidáticos (que suas colegas do Colégio Santa Marcelina- Perdizes- SP-, onde trabalhou durante muitos anos, juntaram para ela.) para presentear os seus alunos de Linhares.
Para trazê-los foi necessário que ela comprasse 03 malas, uma delas numa daquelas lojas “baratinhas” do aeroporto de Cumbica.
Na hora do Check in, a simpática mocinha lhe informou: “Há 61 kilos de excesso de bagagem!”. Diante da pergunta de Zilda sobre o preço, a atendente respondeu que custava R$ 5,00 cada um, ou seja, quase o preço de outras duas passagens. Revoltada, ela esbravejou, mas pagou.
Dois dias depois, liguei-lhe e disse-lhe com voz profissional: “Sra. Zilda, nós somos da BRA e estamos informando-lhe que detectamos que nossa atendente errou para menos, a cobrança do seu excesso de bagagem” .
Ela fez um silêncio sepulcral. Comecei a rir muito, antes que ela me mandasse tomar naquele lugar. Identifiquei-me, ela me xingou e rimos as duas.
Pois é, nem sempre o caro é caro, nem sempre o barato é barato, mas todo corujão presta e merece uma atenção!
Por falar nisso, os sentidos desses “presta” e “merece” podem introduzir outra crônica.