BURRICE DEMAIS DA CONTA!

Há um ditado que diz que “errar não é pecado, pecado é persistir no erro.” Eu, por algumas razões, preciso trocar esse adágio para: “errar e não aprender com os erros é ser burro demais”.

Você que me lê de vez em quando deve passar raiva porque, às vezes, eu menciono outras crônicas que o(a) deixam boiando, não é? Há muitos anos escrevi “Conselho de Anjo” e voltei a publicá-la em outubro de 2006.

Nela eu relato a odisséia pela qual passei, quando adquiri o meu primeiro aparelho de ar condicionado. É dela o seguinte trecho:

Tarde dessas de sol inclemente e suor abundante, daqueles que ao esfregarmos os braços ficamos com os dedos cheios de “biscoitos” (pele morta), ouço o diálogo inusitado entre o anjinho e o capetinha que moram dentro de mim. Instigava o “Brasinha”:
- “Escuta aqui, mulher burra, você “rala” de manhã, de tarde, de noite, fotografa aos sábados e domingos, só falta arrumar um emprego da meia noite às seis... Vai dizer que não tem algum dinheiro para comprar um ar condicionado e parar de ficar empapada e pegajosa?”.

O bom anjinho, entretanto, ponderava:
- “Não escuta ele não, minha santa, o El Niño está passando e você tem como prioridades: um periodontista, um implantodontista, uma esteticista e um cirurgião plástico...”.

O desfecho dessa crônica é hilariante porque no final das contas eu dormia tendo o aparelho intacto, na caixa, embaixo da minha cama. Eu não pude instalá-lo, simplesmente porque meu quarto não tinha uma parede que o coubesse.

Bem, “Conselho de Anjo” foi escrita numa época em que a inflação andava solta e tudo comprado a prazo continha juros exorbitantes incluídos no preço. Você que é mais jovem talvez nem saiba que neste País houve um período perverso, em que as pessoas tinham que receber seus salários, correr nos supermercados, abarrotar os carrinhos e estocar tudo em casa e nos freezers, porque no dia seguinte as coisas já custariam, no mínimo, uns 10% a mais.  A desculpa do governo é que tínhamos uma dívida (impagável) com um tal de FMI.

Hoje, o País está uma beleza! Compra-se carro novo, sem dinheiro, e ainda ganha-se uma bíblia (o carnê para o pagar em 72 vezes). Imóveis, mobília, eletrodomésticos, o que você quiser ter é só ter estabilidade no emprego que não falta gente para te empurrar alguma coisa.

Foi exatamente por isso que eu resolvi que estava na hora de oferecermos um ambiente bem geladinho aos noivos que costumamos fotografar no Northo Studio. Pesquisa daqui, pesquisa dali... Qual a capacidade de refrigeração? Qual é o tamanho do Studio? Qual a melhor marca? Qual o melhor preço? Onde comprar? Asseguro-lhe que o preço de um aparelho de 60mil BTUs não cabia no meu bolso, por cauda de dois Ps: Preço e  Prazo de pagamento.

Estou eu lá assistindo a TV numa manhã dessas e vejo na TV: Ar condicionado de 60 mil BTUs em 06 vezes de R$700,00 na Açimaq! Gente! R$700,00 é muito dinheiro, mas o preço é bem menor do que me informaram e meus clientes merecem esse sacrifício. Onde é essa empresa, pessoal? Disgramei a perguntar isso para Deus e o mundo.

Descobri que a loja fica pertinho do Nagib Sathler, exatamente onde era a Unerê. Lá vou eu toda empolgada comprar o tal aparelho com o meu dinheiro de plástico (que urro para pagar no final do mês!!). Papo daqui, papo dali... fechei o negócio sem nem mesmo ver o tamanho do bicho e sem saber quanto custava para instalar.

Ao chamar um técnico (antes do aparelho chegar), ele nos informou que o “bichano” não servia lá em casa, porque ele era trifásico e nosso relógio de energia é bifásico. As opções era trocar o relógio ou o aparelho. Optamos pelo segundo e passamos por toda ladainha que isso implicou: o novo modelo tem menor potência, mas refrigera três ambientes e custa mais caro. Foi o jeito!!

Chega o bicho lá em casa. Bicho, não, monstro! Uma cepa de um aparelho que os entregadores botaram os bofes para fora para descê-lo do caminhão. E pensar que eu temia que os ladrões quisessem roubá-lo e recomendei que meu marido tomasse medidas para que isso não ocorresse! Olhando o trambolho, fico imaginando que o ladrão teria de ter a força do Hulk e do Super-Homem juntos para carregá-lo nas costas (e ainda assim poria a língua e a hemorróida para fora).

Como se não bastasse, surgiram outras perguntas: Coloco o “bichano” na marquise ou o deixo na varanda? Tem de fazer a base onde ele ficará? Cadê o meleca do pedreiro que iria fazer isso? O quê? Tem de comprar mais R$700,00 de tubos e pagar R$300,00 ao instalador? Socooooooorrrro!! Onde é que estava meu anjo conselheiro, quando eu tive um surto e fiz essa demência?

Algo me diz que meu anjinho barroco está dando de ombros, virando a cabeça para um lado e outro, rindo e dizendo: “Errar duas vezes, “fia”, é burrice demais da conta!”