UMA SENDA DE FLORES E ESPINHOS
O homem é mau em sua natureza humana e, ao mesmo tempo, bom, em sua natureza divina. Podemos ser bons ou maus; cidadãos ou bandidos. Seremos aquilo que somos, desde que vistos como Deus nos criou e, assim, imagem e semelhança do Criador. Do contrário, seremos uma tela pintada por nossas próprias mãos ou por mãos inimigas - uma fantasia. Sempre fantasia; nunca realidade. Seremos o mesmo de ontem, e o mesmo de amanhã, se ninguém nos retirar os traços com os quais fomos tecidos pelas mãos divinas.
Deus não criou demônios; criou anjos bons que se tornaram maus, porque não queriam ser apenas anjos. Mesmo divinizado por Deus, o homem não é Deus; somos apenas uma jóia revestida de ouro; todavia, não somos o ouro fino. Somos apenas um espírito revestido de luz, mas não somos a luz eterna e verdadeira. Cada um escolhe o caminho a seguir: se andará mal acompanhado ou sozinho, se fará o bem ou o mal, sabendo que só o bem é uma fonte de estímulos à alegria, à paz e à harmonia. E o mal, uma ponte que se destina a conduzir os incautos à sua própria desgraça. Todo bem retorna à origem; assim também o mal, à sua origem torna. Navegando na vaga ou morrendo no cais, recebe-se a recompensa pelas obras praticadas. Cedo, tarde ou agora, no fluxo e refluxo, o amor brota, ou a vida jaz.
Criado para amar e ser amado, o homem decide se quer ser fiel ou ladrão; trabalhar ou roubar; semear e ceifar preservando a natureza; assorear os rios, ou reter desordenadamente suas águas; acabar com o encanto da cascata, de nascentes e de cachoeiras; destruir toda a beleza da foz; derribar árvores, abrir clareiras, matar todo ser que respira com morte lenta e dolorosa. A natureza, porém, responde, negando ao homem o fruto e o pão necessários à vida, ou eliminando-o em catastrófica parusia.
Tudo pode ser mudado em cinco minutos. Em apenas cinco minutos, podemos alterar o destino da própria vida... Em cinco minutos, pode-se gerar uma vida, uma amizade, um futuro brilhante. Em apenas cinco minutos, podemos destruir tudo isso!
Então, pus-me a examinar o que havia entre o céu e a terra: lancei um olhar humano sobre a natureza divina, e um olhar divino sobre a natureza humana. Olhei com olhos divinos para conhecer o amargor do pão e do mel humanos; depois, olhei com olhos humanos para conhecer o suave-doce do Pão e do Mel divinos. Foi assim, com um sorriso e uma lágrima, que teci o perfil psicológico de cada personagem; algumas reais, outras imaginárias. Assim, temos Candim, nascido em 1902, aos 21 anos de idade, precisando pedir permissão ao pai para fazer a primeira barba. Percebe-se, com isso, o paradoxo entre a continência exacerbada dos que nasceram nos idos de 1900 e a incontinência dos jovens contemporâneos, que agridem os pais a fim de lhes arrancarem dinheiro para comprarem as drogas consumidas.
Na senda de flores e espinhos percorrida pelos personagens desta obra, percebe-se a crítica social levada a efeito por meio das figuras exóticas que perambulavam pelas ruas de Picos, bem como em Antônio Delfina. Remete-se o leitor ao programa de desarmamento implantado pelo Governo. Mostra-se a diferença entre o cidadão, que precisa de uma arma para manter as integridades física e moral da família, e o bandido, que mata por motivos fúteis.
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LIMA, Adalberto. Senda de Flores e Espinhos.