15/11
Mais uma hora arrastada do dia; nada de bom para fazer. Enquanto alguns estão felizes e satisfeitos na sua plenitude de vida, jogo meus resmungos e insatisfações sobre o papel. A felicidade me irrita, a felicidade alheia me exaspera. Mesquinha? Fútil? Egoísta? Sou mesmo, com todos os defeitos que me cabem. Preencho meu vazio com rancor e futilidade, o desejo mesquinho pela imagem, pela aparência. Quero vingança, quero ver a tristeza estampada no seu olhar. Vou gargalhar por dentro, disfarçando minha alegria com um tapinha nas costas, um sorriso camarada, um “Não fique assim...”. Pois saiba que eu já sabia: vejo o futuro claro e reto bem na minha frente, e cedo ou tarde minha vontade prevalece. Sou o grande Vazio, a vontade de cair no abismo, a Vertigem. Comando o teatro de marionetes, faço você girar ao meu redor, orbitar minha existência. Sem mim você não é nada, eu sempre venço no final.
Sou a hipocrisia disfarçada de amor. Analiso a realidade e a controlo, pois sei o presente e vejo o futuro por trás dos véus que cobrem seus lindos olhos.
Você me acha doce? Sou sim, mas enquanto você me toca na superfície, por dentro eu cresço e corrompo, domino mais um território, derrubo mais uma porta e evoluo. Eu sou uma praga que você desconhece, querido. Você não me imagina assim, não é? Sou maior quer você e mesmo assim dependo de ti. Minha marionete preferida, meu brinquedinho predileto... Te desejo, te atraio, faço você me querer e te uso até o final. Estraçalho-te, o amasso e piso, cuspo em cima de ti e o jogo fora para depois te atrair novamente, para sentir até onde vai meu poder: infinito, baby. Infinito.
Não dá para escapar, baby:você é minha marionete.
Você se diverte com os humanos, não? Disfarça, ilude seu desejo, o pinta com as cores de um amor que não existe. Você me faz rir. Encare a cruel realidade, jovem. Meu lado bonito um dia talvez te ame com o amor bonito, mas por enquanto você é fantoche disfarçado de obsessão do meu lado feio e frio.