SÃO JOÃO

Volto mais uma vez ao passado, lembrando as minhas raízes. Sítio Jenipapeiro onde revi minha família e compartilhei a noite de São João.

Saudades dos meus queridos pais, que sempre estavam lá, com suas figuras marcantes, proporcionando para todos os filhos as brincadeiras da noite de São João. A fogueira era preparada pela manhã. Ficava ansiosa que chegasse o final da tarde, para que fosse acessa. Família numerosa, num total de nove filhos. Era uma noite de grande animação. Os fogos de artifícios eram poucos. Nunca gostei dos foguetões, bombas, me incomodavam. Talvez sejam reminiscências de um passado distante.

A preparação continuava. O milho era colhido no roçado logo pela manhã. Quando terminávamos de almoçar, minha mãe, minhas irmãs e eu, íamos logo dar início a confecção das pamonhas, canjica e o bolo de milho. Tudo feito com o puro leite que é tirado, logo cedo, da vacaria. Ainda acrescentávamos nata, manteiga e queijo de coalho dando um sabor especial nas iguarias. Tinha também o milho cozido e o milho que fora reservado para assar na fogueira à noite. Naquela época os espetos eram feitos de madeira.

Tudo tão simples, mas tão maravilhoso! A união da família, onde cada um se aconchegava ao outro, através do abraço, do beijo. As emoções fluíam de forma espontânea. Mesmo parecendo um tempo retrógrado, mas havia sim, esse aconchego familiar. No alpendre da casa eram armadas redes onde uns ficavam a balançar, outros deitados em espreguiçadeiras, mas todos com o mesmo espírito de animação. Cantávamos, contávamos histórias, dávamos gargalhadas, tudo em clima de festa. Ah, tinham as simpatias para arranjar namorados, como ainda era criança não fazia nenhuma, mas minhas irmãs, mais velhas do que eu, faziam. Lembro-me das madrinhas de fogueira e das comadres. A meninada tomava por comadre ou compadre uns aos outros. Tudo muito rico em se tratando da imaginação e criatividade.

Hoje, ao voltar lá, consegui me reunir com uma parte dos irmãos. Existia uma lacuna... Alguns que nos foram caros já não estavam mais com suas presenças físicas, mas que estavam presentes em espíritos.

Faltou ainda o milho, personagem indispensável à Festa de São João. Segundo Cosme, meu irmão mais velho e dono da casa, a chuva fora escassa para a colheita do milho, que fora plantado no dia dezenove de março, dia de São José, para ser colhido no São João.

Meu sertão nordestino! Como sua gente sofre pela escassez da chuva. Mas mesmo assim seu povo é forte, guerreiro e sabe viver com as adversidades da vida.

Apenas a fogueira solitária se encontrava lá, imponente, com suas labaredas a desvairar o espaço, e que serviu para a garotada soltar os seus rojões e fogos de artifícios. E no tom de brincadeira falei em voz alta: Quero meu São João de volta.

Mesmo assim não fiquei triste, pois havia o aconchego e o carinho de todos. Foram dias maravilhosos, onde o compartilhar faz-nos seres mais dóceis e mais felizes.

Volto sempre reabastecida da energia pura do campo, mas principalmente volto reabastecida do calor humano, bem peculiar aos meus entes queridos. O clima no sertão, nessa época do ano, se torna mais ameno, principalmente a noite, onde podia dormir tranquila sem calor e pernilongos.

Neneca Barbosa

João Pessoa, 26/06/2007

Neneca Barbosa
Enviado por Neneca Barbosa em 20/06/2008
Reeditado em 10/10/2014
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