Amores e sapatos novos
Um poeta por si só já se revela, então sua vida já é algo de público seu quereres, quer reais ou ilusórios já não são só seus, pertencem aos seu leitores. O poeta reparte, partilha sua vida, é uma opção feita quando escrever, criar, torna-se latente, inevitável.
Então me conhecem todos que acuram um pouco a leitura, compartilham meus ais, amores e dores, amizades e prazeres, sonhos e frustrações, medos, ansiedades, enfim, minha própria vida.
Parto aqui para um revelar que pode ser engraçado, triste, real, na medida de cada entendimento. Escrevo sobre medos, ansiedades e manias...
Esse tempo todo, nesse mundo tão moderno, convivemos com mulheres maduras, independentes, inteligentes e resolvidas, portadoras, no entanto ora de medos, ora de frustrações, ou anseios, ou tudo junto. Creio então que só maturidade, independência, não libertam de alguns temores interiores, que findam refletindo no dia-a-dia. Conheço uma médica (uma das minhas), que ao me ver ansiosa por questões pessoais e familiares, revelou-me as suas, e der repente a vi tão igual a mim, eu que a achava tão mais madura e segura. É assim, no rol, no mundo das mulheres maduras que convivo ou de que tenho notícias, umas mais, outras menos, mas quase todas têm seus anseios, suas frustrações pessoais, amorosas, seus ais.
Meus medos, os medos que nos cercam o medo de ficar só, medo da solidão, medo de nunca encontrar um alguém, o alguém definitivo. Temos medo do tempo que passa, do tempo que marca, assombra, envelhece, nos faz às vezes destoante.
Hoje, exercito um saber-me mais, descobrir-me a cada dia, e me concluo linda e madura, intensa, verdadeira, atenta um pouco mais, e mil vezes mais incompreendida. Já não são tantos os medos, permanecem algumas ansiedades, e sempre o desejo de amar, o desejo de encontrar.
Tem um tempinho investi numa investida amorosa que durou um tempo igual (rendeu belos poemas) e frustrou-se antes mesmo de concretizar. Então me descobri comprando sapatos, lindas sandálias altas (e olha que tenho uma altura considerável) Tudo bem. Já bem recente, uma nova investida, esta frustrada e mal resolvida. Outro sapato lindo. Não entendi. É impressão minha ou a cada suposto amor/paixão compro sapatos? Sempre soube de mulheres que investem em perfumes, lingeries, maquilagem, etc., mas, sapatos? Sei não. Preciso rir disso, e quem sabe me conhecer mais ainda. De toda forma os sapatos não estragam, vão mesmo sendo usados, é o curso natural das coisas. A vida é uma continuidade. Surpreendo-me positivamente com esse poder de cura, reabilitação, recuperação.
E me gosto por ser crédula otimista em achar que prosseguir é o grande segredo, e amar, encontrar um amor, o grande desafio. Afora um pouco de ansiedade que preciso trabalhar, diminuir as quilométricas doses de café que me alimentam (e agitam) estou me querendo bem, lamento que alguns não consigam compreender meus pensamentos, posicionamentos, meus sentimentos, mas como dizem: Os poetas são complexos, incompreendidos e incompreensíveis, minha alma de mulher-poeta segue sua busca...
Cotidianamente com as estrelas,
Sempre se orientando pela Lua,
Não pensem que são tantos sapatos novos, apenas alguns, indícios de alguns supostos amores-paixões. Provas materiais de que me recrio, reinvento, prossigo sempre. De cara lavada, e cabelos ao vento.
Quem sabe mudo de mania?
Passo a comprar outras coisas, ou quem sabe vem por ai alguém que ficará?
Quem vai sentir são os comerciantes. (risos).