A MULETA e o AMULETO - Berenice Heringer

Aterrissando depois de planar nos éteres do pensamento e do legado sagrado da filosofia einsteiniana, sinto um baque que a força da gravidade me impõe ao frágil ser. Tênues nuvens de sentimetos evanescem como o orvalho matinal se dissipa ao contato tépido do sol. Aí busco minh'alma que está aqui mesmo e lhe atribuo o mérito de manter-me atenta, centrada, conectada, viva, atuante, pulsante. Quem sabe onde é o refúgio da plenitude mergulha LÁ, reabastece-se e tece em seu tear mágico a trama da existência.

Haurir e ex-haurir. Impregnar e disseminar. O tônus, o pneuma, a Vida. A Dádiva, lida de trás prá diante, ainda nós dá uma sobra, um D do dia/noite/eternidade.

O éter é o quinto elemento e Einstein nos apresenta à 4ª Dimensão, o sítio onde se camuflam os liames delicados desse quarto poder, que escapuliu da geometria sólida e plana de Euclides: altura, largura, profundidade; e ENERGIA, que ultrapassa a física newtoniana e se ancora nos Quanta.

Comecei a flanar, mas ia falar na escora emocional, aquele banquinho tripé cambeta que oscila e não nos consolida a mínima estabilidade. Bípedes e oscilantes nos nossos pêndulos emocionais/sentimentais exânimes e hesitantes. Exangues na luta incruenta como aprendizes ineptos do truque da vampirologia.

Buscamos, até ansiamos pelo Outro para conferir-nos ligitimidade, nos dar salvo-conduto e crachá de identificação.

As muletas de verdade são terríveis, mas muito úteis quando delas necessitamos. Plantinhas frágeis necessitam de escoras, ar fresco, H2 Oh!, proteção. Galhos quebrados, asas fraturadas, precisam de talas e espeques. Mas a natureza busca o auto-fortalecimento, cada qual tem que se virar, não deixar o tronco se estiolar, alongar demais. Aprender rápido a fazer a seiva circular, fabricar clorofila, captar nutrientes, absorver luz solar. Independência...

As escoras emocionais costumam virar gaiola para encerrar e decepar impulsos tímidos, vontades brandas, projeções ilusionistas. A aranha nunca se enleia, ela mesma, na teia que tece. O emaranhado é para aprisionar incautos. Mas os pávidos são prevenidos. Os precavidos testam antes, treinam muito para poder saltar, contornar obstáculos, pular sobre as pedras do caminho. E adivinhar onde existem areias movediças. Para se desviar...

E o amuleto? Só se for a Excalibur que Arthur desentranhou do rochedo e brandiu com o fulgor do raio laser que enceguece o incauto, fere o trangressor da minus legis.

Mascote é goma de mascar que alguns guardam atrás da orelha ou sob a orla da mesa. Aqueles que gostam de pés-de-coelho e trevos-de-quatro-folhas costumam apostar na pata-da-gazela, mas confiam mesmo é num eficiente pé-de-cabra.

O fetichismo é a entronização do mascote, a adoração do bezerro de ouro, o deus Baal, e o ressuscitamento do Golem. Aquele que tem a síndrome do TOC precisa de amuleto.

Então, nestes finalmentes, qual a diferença entre um perfeccionista e alguém que sofre do Transtorno Obsessivo-Compulsivo? É única e exclusivamente o grau de crendice, fanatismo e superstição. O cientista é perfeccionista, detalhista e obstinado em busca do objetivo, não crê em ritual, exorcismo, más influências, mau-olhado, "energias negativas", "olho-gordo", mas tão somente em ação, eficiência e ordenamento.

A cor de qualquer roupa não vai influenciar no êxito ou no fracasso, como supunha Roberto Carlos, que melhorou porque buscou tratamento médico e psicoterápico.

Dar toques na madeira pode arranhar os nós dos dedos. Mas não vai mudar nenhuma situação. Não existe sorte nem azar. E praga não pega. Só tiririca. O espantalho do arrozal só serve para o pássaro pousar enquanto descansa...

Vila Velha, 10 de junho de 2008.