TIO PASCOAL

Um fato muito curioso tratado no capítulo O clã Mariano é que tio Pascoal é irmão legítimo de meu pai e de minha mãe, ou seja, irmão de sangue tanto de um quanto do outro, entretanto meus pais não têm nenhum grau de parentesco entre si. Pascoal Silva, como é conhecido, é muito realista no modo de agir e falar. Conciso, diz em poucas palavras o que muitos gastariam uma página para dizer.

Certa vez, perguntaram-lhe qual o segredo de sua longevidade (80) e de ser o último sobrevivente dos 15 filhos de seu pai. Ele respondeu simplesmente:

- É a ordem natural da vida, pois fui o último a nascer!

Possuidor de um raciocínio muito rápido, às vezes se utiliza dele para gracejar com algum interlocutor. Sua esposa Judite partiu, certa vez, um bonito e cheiroso melão:

- Oh, melão cheiroso!- disse ela. É mais cheiroso do que gostoso! Pascoal respondeu imediatamente:

- Tá feita a divisão, você fica com o cheiro que eu como o melão.

É certo que herdou a sabedoria de seu pai Mariano Grande e o gosto pelo trabalho tanto do pai quanto da mãe. Em entrevista ao jornal “FOLHA PICOENSE” (18/06/2001 : p.9), Pascoal declara:

Eu tinha 12 anos de idade e comecei a viajar pelo Maranhão com animais, vendendo alho e cebola por minha conta. Foi nos idos de 1939. Eu viajava com meu primo com três animais de carga. Meu primo também. Entrei no Maranhão, no Pará e no Goiás, tangendo animais. Gastava-se na viagem, em média, dois meses. Lembro de uma que durou 64 dias... No dia 11 de abril de 1951, eu comprei um pé-de-bodega no Mercado Público em Santo Antônio a um cidadão conhecido por Quinel. Comecei, graças a Deus, quando já tinha um capitalzinho. Eu viajava e quando chegava aplicava o dinheiro: comprava uma vaca, um garrote ou um porco, fosse lá o que fosse. Quando foi para me estabelecer, vendi tudo isso e comecei meu negócio... Almoçava no próprio comércio. Às vezes deixava o prato de lado para atender o freguês... Fazemos tudo para agradar. A única coisa que não fazemos é avalizar em banco. Quando comecei a vender no atacado, tinha cliente que vinha, tirava o pedido e ainda trazia o caminhão e pagava o chapeado (carregador) para botar a mercadoria no caminhão. Hoje é diferente. Nós atendemos a 60 municípios e temos os carros que levam as mercadorias até eles. Temos aproximadamente 70 funcionários que trabalham em nossas empresas e estamos informatizando o trabalho... Eu nunca procurei crescer muito e nem quero. Quero ter meus negócios em dia... A firma que criei em 1951 ainda hoje é a mesma. Ela foi transferida de Santo Antônio para Picos. P. da Silva e Filhos, não é uma filial. É uma descendência de Pascoal Joaquim da Silva. É uma sociedade: sou eu, Pascoal Filho, Wilson e Edilene; a empresa é praticamente tocada por eles... Hoje dizem que para ser rico tem que furtar e roubar. Eu acho que não. O trabalho com honestidade é o melhor caminho. Agora é preciso trabalhar mesmo.

Lembro-me dele ainda muito jovem, pois sou apenas oito anos mais nova.Sou testemunha de sua luta incansável para tornar-se o grande empresário que hoje é. Foi tropeiro como meu pai, enfrentando as dificuldades de transporte que em sua juventude era precário: viajava-se em lombo de animal e por vezes a pé, atravessando Estados inteiros. Gastava-se de 18 a 20 dias para percorrer os 306 km que separam Picos de Teresina, o que agora se faz de carro em menos de cinco horas. Hoje tio Pascoal é um grande empresário, economicamente mais expressivo do que seu irmão Candinho nos tempos de bonança. Seu patrimônio foi constituído no decurso de mais de seis décadas e, desde os primeiros tempos, a esposa Judite foi uma grande aliada.

Aparentemente tímido, mas muito firme em suas decisões, sempre procurei ouvi-lo, buscando sentido em suas sábias palavras. Levava a sério até mesmo suas brincadeiras; por isso, em minha adolescência, quando me disse que moça rendeira não se casava, larguei imediatamente os bilros e a almofada.

LIMA,Adalberto; SOUSA, Neomísia. Saga dos Marianos