BANQUINHO DE MADEIRA
Meu cérebro funciona (?) por meio de signos lingüísticos, de palavras e de imagens. Talvez por isso eu goste tanto de escrever e fotografar.
Em meu entender, arrumar as palavras num texto é muito parecido com tecer. É, estou falando de tecelagem, de tecelão, de pessoas que combinam texturas de fios e a sua disposição naquilo que virá a ser o tecido. Assim, cada palavra é como se fosse um fio, é necessário saber como arrumá-la e onde colocá-la para que o resultado agrade os olhos dos leitores.
Bem sei que lingüísticamente a “tecelagem” de um texto exige mais que simplesmente escolher o “fio” ou a profundidade da trama. É preciso não ignorar completamente as regras da norma culta ou, então, fazer como eu que as transgrido e procuro disfarçar bem.
Diferentemente dos bonitos tecidos que são necessários tanto para ricos quanto para os pobres que não queiram andar nus, os tecidos lingüísticos (textos) só têm valor para muito pouca gente. Em outras palavras, as mesmas pessoas que dariam R$300,00 numa calça de marca famosa, não dariam R$30,00 para adquirir um livro. Bem, se quem pode comprar não o faz, coitados dos escritores, não é mesmo? Essa é a principal razão para eu não reunir meus escritos num livro. Basta-me esse espaço cedido por meu amigo Deni Almeida da Conceição.
Pegando o outro lado do meu funcionamento (?) cerebral, eu lhe digo que, fotograficamente, eu percebo a combinação de cores, de sombras, de luz e se há bom gosto ou mau gosto em formas, roupas, acessórios e ambientes. Claro que sei que gosto é igual àquele negócio cujo nome eu não posso escrever aqui, ou seja, cada um tem o seu. Mas eu me atrevo a dizer se as coisas e cores combinam e se as formas se harmonizam.
Aliás, eu me divirto em festas, observando os modelitos e as formas anatômicas que os vestem, mas rio muito mais, imaginando-as sem nenhuma vestimenta a lhes cobrir. É claro que pode haver outros doidos que também já tenham feito a mesma coisa comigo e tenham percebido que meu traseiro é muito mal enjambrado.
Cheguei ao foco dessa crônica: meu traseiro! Já lhe falei que Deus poderia ter me feito a pincel, com o corpinho da Camila Pitanga, mas Ele preferiu me fazer a facão. Até que não posso reclamar, pois se há mulheres com corpo em forma de maçã (largonas em cima e fininhas em baixo), Ele foi bacana e me deu um corpo em formato de pêra (fino em cima e largo embaixo), pelo menos quando eu era jovem. Eu é que andei comendo pra caramba e quase invertendo as bolas. Na hora de fazer meu traseiro, entretanto, meu Senhor cochilou e fez uma mistura muito doida de pêra com maçã.
Nunca tive problemas com meu traseiro até que, recentemente, descobri que ele tem um defeito que pode me custar o emprego. Imaginem que a minha querida Unilinhares concretizou um sonho de todos nós: inaugurou um auditório lindo, que vai possibilitar o acolhimento digno de bons palestrantes e deve colocar Linhares no circuito das boas peças teatrais e shows.
O auditório tem rampa, galeria de artes, 450 cadeiras estofadas, lugares especiais para obesos e cadeirantes, tratamento acústico nas paredes, teto e piso, um palco e cortina vermelha maravilhosos e um sistema de sonorização e iluminação de primeiro mundo.
Esse recinto foi inaugurado durante a recente Convenção dos Contabilistas do Espírito Santo, que recebeu centenas desses elegantes profissionais. Tudo transcorreu na santa paz de Deus e todos saíram encantados.
No dia 19 de outubro de 2007, às 19horas, as pessoas começaram a chegar ao auditório para assistir à palestra do Dr. John Crag, da Universidade de Oklahoma, com tradução simultânea de Vanedson Ximenes, e eu, “prafrentemente”, escolhi uma cadeira na primeira fila para fazer o mesmo. Qual não foi o meu desespero ao ouvir: CLEC!! Gente! A cadeira (cada uma custou R$822,00) quebrou e com ela “rachou a minha cara”.
Ouvi piadinhas do tipo: “Tá gorda!”, “Come demais!”... Tentei rir, brincar, dizer que foi melhor acontecer comigo do que com o palestrante... Essas coisas que não conseguem colar os pedacinhos da nossa cara envergonhada, mas que a gente bem que diz.
No dia 21, à tarde, acompanhando o professor José Predebom que faria a abertura do II Concapi - Congresso Norte Capixaba, brilhantemente realizado pela Unilinhares, meu traseiro quebrou outra cadeira.
No dia 22, às 15h e 30min, quando os alunos do Curso de Letras daquela instituição se preparavam para a fantástica apresentação da Semana de Arte Moderna, eu quebrei a terceira cadeira. Gente! R$2.466,00!! Isso não é um traseiro! É um monstrengo!
Detalhe: nenhuma outra cadeira se quebrou com ninguém!
Bem, nosso auditório está fechado para que a empresa instaladora dos assentos revise todos, sob pena do bicho pegar feio para o lado deles. Quanto a mim, eu estou incumbida de testá-los após a revisão dos técnicos.
Ficou o trauma, mas meu amigo Noé, o curador do local, disse-me que eu não preciso ficar triste: ele vai pedir ao nosso marceneiro, Sr. Raul, para fazer um tamborete especialmente para mim.
Já imaginou que maravilha eu chegando naquele lindo local segurando na mão o meu banquinho de madeira?