...PARA DORMIR E ACORDAR O MESMO SONHO...
Olhos negros que refletem as boas intenções da noite carente de estrelas. Os dentes na pele para saciar a fome, mas não a de quem morde. E a lua pede calma, que tudo pode demorar mais do que ela possa suportar. Acontece que o amor não pode esperar, ainda mais quando o mesmo é maior que a própria vida. Coração que coloca música para os corpos se misturarem em pernas, braços, bocas e olhos fechados. Você pode ficar nua e ainda assim esconder seus segredos, que os meus faço questão de colocar dentro de você, mas só para você, que sabe interpretar todos os meus sinais, e que sabe traduzir como ninguém todos os meus desejos. Poderia ser um sonho, mas foi real. Também foi real o adeus, o retorno, o beijo e as risadas em frente a faculdade. Você dizendo que era apenas uma menina, e eu me achando o máximo ao poder colocar um sorriso após o outro no teu rosto. Eram dias quentes de inverno aqueles, onde caminhávamos sempre sem ter direção e acabar perdidos era tudo o que queríamos. Nossas preces eram por perdição, a salvação era para quem as merecia. Para nós, bastava alguns segundos a sós para saber que não precisávamos de mais nada que não estivesse ao alcance de nossas mãos. Todas as festas eram nossas, todos os risos eram nossos e era nossa vontade saciada que alimentava a necessidade de repetir tudo outra vez. Estivemos em São Paulo, São José do Rio Preto, e onde nossa imaginação pudesse levar. Tua lingua vibrante pelo espanhol que ensinou avidamente. E a vida brilha agora mesmo sem tua presença. No Rio Grande do Sul fizemos algazarra, bêbados de vinho barato comprados numa janela de boteco. E os moradores locais pediam silêncio enquanto gritávamos para nosso coração se acalmar que a alegria também poderia nos matar. Nos equilibrávamos com a ajuda de nossas mãos e rodopiávamos em nossas espirais imaginárias. Aquele vento gelado aquecia a nossa vida, justificava cada segundo que ganhávamos, pois naquele momento ganhávamos de presente a certeza de que por mais hostis que pudéssemos ser dali pra frente, nada seria capaz de matar o amor que inventamos, nada seria capaz de apagar da nossa mente que qualquer coisa que desejássemos seria possível. E foi assim que te reencontrei.
"...porque eu quero apenas
uma pausa de mil compassos..." PAULINHO DA VIOLA